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Anywhere office: local de trabalho com lazer, em qualquer dia e lugar

Cada vez mais brasileiros aderem à tendência, que pode sobreviver à pandemia

Por Sabrina Brito Atualizado em 4 jun 2024, 13h23 - Publicado em 5 mar 2021, 06h00

Estamos na era do anywhere office, ou seja, do escritório em qualquer lugar. Para manter distância do novo coronavírus, por decisão própria ou determinação da empresa, muita gente começou a trabalhar em casa, na escrivaninha já instalada ou improvisada de última hora. Mas casa, assim como o escritório, também pode ser em qualquer lugar: na praia, no campo, em um hotel ou dentro de um transatlântico — desde que haja conexão com a internet, o negócio está feito.

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Uma pesquisa sobre turismo encomendada pelo aplicativo de locação Airbnb revelou que 83% dos entrevistados se mostram a favor de acomodação em outro espaço, que não o próprio lar, para trabalhar remotamente. Afinal, já que o trabalho é virtual, por que não fazê-lo a partir de um endereço com uma bela vista, ao alcance de uma caminhada quando o expediente acabar? E se, além disso, o profissional ainda puder aproveitar serviços de lavanderia, limpeza de quarto e restaurante? Não pode haver mundo melhor do que esse.

Já sabendo disso, hotéis e resorts, até por necessidade de sobrevivência, lançaram-se a alugar por temporada, dando a oportunidade ao hóspede de aliar férias ao trabalho. Para aqueles com filhos, a hotelaria oferece monitores que cuidam dos pequenos enquanto os adultos trabalham. Algumas bandeiras vão além, disponibilizando salas de aula onde as crianças estudam enquanto a escola não abre.

HOTEL-ESCRITÓRIO - O gerente Victor Peixoto aproveita um momento de paz enquanto trabalha: sem endereço fixo -
HOTEL-ESCRITÓRIO - O gerente Victor Peixoto aproveita um momento de paz enquanto trabalha: sem endereço fixo – (Claudio Gatti/VEJA)

Os destinos dessa migração variam, mas o Nordeste, por tudo o que oferece, inclusive distanciamento social nas amplas praias, ganha de goleada. De acordo com a Azul Conecta, braço de aviação regional da Azul, um dos lugares que têm se sobressaído é Porto de Galinhas, em Pernambuco. Na Costa do Sauípe, roteiro popular na Bahia, um novo pacote, adequadamente chamado “Meu Escritório É na Praia”, permite que o hóspede trabalhe remotamente de uma mesa colocada em frente ao mar, com direito a guarda-sol e internet.

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A ideia foi suficientemente tentadora para o empresário Carlos Henrique Carvalho, morador de São Paulo, juntar trabalho remoto com um pacote de curtas estadas em praias paulistas como Barra do Sahy, Juquehy e Ilhabela, e também em Sergipe e na Bahia. “Meu objetivo era me isolar em um lugar mais seguro que a cidade, onde eu pudesse ter contato com a natureza”, diz o executivo. Ele acredita que trabalhar num canto em que se sente melhor só aumenta a produtividade.

Para quem não gosta de praia, há opções rodeadas de verde. Cidades como Itu, Taubaté e Campos do Jordão, no interior de São Paulo, estão vendendo pacotes semelhantes. A rigor, não é preciso nem mesmo sair da cidade em que se mora para fazer o anywhere office. “O legal é justamente poder trabalhar literalmente de qualquer lugar”, afirma Victor Peixoto, gerente de comunicação. Paulistano, ele e a mulher resolveram passar dois dias no hotel de luxo Hilton São Paulo, só com o intuito de mudar de ares. Dizem ter funcionado, magnificamente. No Rio, o Vila Santa Teresa Hotel, um refúgio urbano de 85 000 metros quadrados com uma vista invejável do Pão de Açúcar, passou a receber 40% de sua clientela de cariocas. “Antes, 80% dos hóspedes eram estrangeiros. Nos últimos tempos, moradores da cidade passaram a reservar nossos quartos e, entre um mergulho na piscina e caminhadas pela propriedade, trabalham daqui”, diz a empresária Eva Monteiro de Carvalho.

LOUCOS PARA VIAJAR - Em Londres: britânicos contam os dias para curtir a temporada de verão em cruzeiros -
LOUCOS PARA VIAJAR - Em Londres: britânicos contam os dias para curtir a temporada de verão em cruzeiros – (Chris Gorman/Getty Images)

O advento do escritório por aí afora, sem amarras, foi um alívio para o setor de turismo, que vem tendo pesadas perdas de receita desde que a pandemia começou logo após o Carnaval de 2020. É uma das poucas oportunidades de evitar estragos maiores do que os já registrados, já no patamar de 50 bilhões de reais. “Essa tendência é vital para o turismo, que se movimenta, e também para o viajante”, diz Magda Nassar, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens. Segundo ela, o efeito clausura provocado pela pandemia despertou o desejo de viajar, e o anywhere office propicia essa possibilidade sem que se diminua o ritmo de trabalho.

Aproveitar a moda é uma boa ideia, mas ela perdurará? Uma pesquisa da consultoria Cushman & Wakefield aponta que três em cada quatro empresas brasileiras pretendem fazer do home office uma prática definitiva mesmo após a pandemia. Dessa forma, se o trabalho remoto veio para ficar, pode ser que o mesmo aconteça com o anywhere office. Nos países com campanhas de vacinação avançadas, o turismo dá sinais animadores de voltar à vida normal. Em Israel, hotéis, shoppings, safáris e museus estão reabrindo de forma segura. Da população de quase 9 milhões de pessoas, 50% já foi vacinada — o que não significa necessariamente que elas estão voltando ao trabalho presencial. Muita gente pretende trabalhar de casa ou, insista-se, de qualquer outro lugar.

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E, falando em retomada, o Reino Unido começou a negociação com outros governos para reabrir os corredores turísticos. Os 20 milhões de britânicos que tomaram pelo menos uma dose do imunizante têm demonstrado preferência por destinos na Turquia e cruzeiros no Mediterrâneo. Países como Indonésia, Dinamarca e Suécia estudam a possibilidade de permitir a entrada apenas de turistas imunizados. Já a Grécia quer receber os viajantes britânicos, estejam vacinados ou não. O motivo da pressa é claro: grande parte da receita grega vem do setor turístico. Outro exemplo são as Ilhas Seychelles, arquipélago localizado no Oceano Índico, cuja dependência do turismo é total. O país foi o primeiro a anunciar a disposição em receber turistas vacinados sem exigência de quarentena na chegada.

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Verdade seja dita, não há nação que não anseie pelo retorno das viagens internacionais, incluindo aí o Brasil. Levando em conta o cenário global, é de esperar que, à medida que o brasileiro vá sendo vacinado, o setor de turismo volte a funcionar paulatinamente, como um jato aquecendo suas turbinas. Nesse sentido, as expectativas não são ruins. “Acreditamos que, em julho, a temporada de turismo começará a se solidificar”, diz Magda Nassar. Por enquanto, com a vacinação avançando lentamente, o turista brasileiro terá de se contentar com viagens curtas a destinos onde possa trabalhar e se divertir ao mesmo tempo. Mas há quem esteja empolgado tanto com a continuidade do anywhere office quanto com a retomada do turismo tradicional. É o caso de Marcos Arbaitman, presidente do grupo controlador da Maringá Turismo. Ele espera para maio uma recuperação de 100% do turismo nacional e acredita que, quando 30% da população estiver imunizada, voltará a vender destinos internacionais como Nova York. É uma visão otimista. Tomara que aconteça.

Publicado em VEJA de 10 de março de 2021, edição nº 2728

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