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Aeroporto em Berlim prometido para 2011 é inaugurado em pleno lockdown

Obras começaram em 2006, mas problemas estruturais atrasaram a entrega; empreendimento passou a funcionar durante choque na oferta de voos

Por Diego Gimenes
Atualizado em 4 nov 2020, 18h10 - Publicado em 4 nov 2020, 17h05

No meio de uma das maiores crises de saúde e com impactos diretos na economia mundial, afetando em especial o setor de turismo, a Alemanha inaugurou nesta semana um novo aeroporto. O complexo de Berlim-Brandenburg (BER) Willy Brandt, em homenagem ao ex-chanceler da Alemanha Ocidental, deveria ter sido entregue em 2011, mas por ironia do destino acabou abrindo suas operações justamente em um dos momentos mais delicados da história da aviação, fragilizada pelas restrições impostas pelo coronavírus, que diminuíram drasticamente as viagens de lazer e também corporativas. 

Desde a última segunda-feira, 2, os bares, restaurantes e outros estabelecimentos estão com as portas fechadas na Alemanha por causa do aumento da contaminação pelo coronavírus. Foram 15.352 casos confirmados nas últimas 24 horas, segundo o Instituto Robert Koch (RKI), órgão federal responsável pelo controle e prevenção de doenças. Os comércios e as escolas estão autorizados a abrir, mas a recomendação é de que as pessoas fiquem em casa. As medidas para conter o avanço da Covid-19 no país contribuem para escancarar os atrasos nas obras do novo aeroporto. Erros primários como de fiação elétrica e de sistemas para prevenção e combate de incêndios fizeram o complexo custar 6,5 bilhões de euros (39,7 bilhões de reais), bem distantes dos 2,5 bilhões (16,5 milhões de reais) previstos inicialmente.

As obras começaram em 2006 e deveriam ter sido concluídas em outubro de 2011, mas a entrega oficial precisou ser adiada seis vezes. Em 2012, uma inspeção realizada semanas antes de uma das inaugurações que foram canceladas, apontou aproximadamente 120 mil problemas. Além da fiação mal feita e dos falhos sistemas de combate a incêndios, o teto de alguns estacionamentos estava caindo e milhares de portas automáticas não estavam conectadas à rede elétrica. Três comissões parlamentares investigaram o caso e concluíram que faltou expertise e houve uma má avaliação por parte de engenheiros e arquitetos envolvidos na operação. Não houve condenados no processo, mas foi uma mácula para a tão celebrada engenharia germânica.

Além do prejuízo nas obras, os responsáveis pelo aeroporto já devem começar a contabilizar as perdas causadas pela pandemia, em vista que a capacidade de operação do novo complexo será drasticamente reduzida, justamente pela escassez de voos. A previsão da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA, sigla em inglês) não é das melhores: o setor aéreo não deve retomar os patamares de 2019 antes de 2023, ou seja, a recuperação não será das mais rápidas.

Logo, o movimento de passageiros no novo aeroporto é tão pequeno que o terminal 2 nem sequer foi inaugurado, e só deve funcionar a partir de 2021. Por outro lado, a aposta dos gestores é de que o aeroporto será importante para o desenvolvimento econômico da região e que trará resultados a longo prazo, mas nem eles mesmos conseguem esconder a frustração com o empreendimento. “Finalmente, podemos colocar nosso aeroporto em operação. Foi uma longa estrada, não foi um caminho fácil e todos os que estão aqui hoje sabem disso, por isso não vamos celebrar uma festa hoje. Estamos apenas abrindo”, disse o CEO do aeroporto, Engelbert Luetke Daldrup, em uma breve cerimônia de abertura no último sábado, 31. Ainda assim, os empresários responsáveis pelo complexo planejam para 2030 uma nova expansão do local, orçada em 2,3 bilhões de euros (15,2 bilhões de reais).

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