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A agenda ESG resistirá aos governos

Os princípios e valores não mudam de acordo com os ventos. Estão enraizados na cultura e no jeito de ser das organizações

Por Bárbara Bueno *
Atualizado em 18 abr 2025, 20h35 - Publicado em 18 abr 2025, 20h30

A participação de empresas brasileiras em ações em prol da sociedade e do meio-ambiente já era um movimento relevante muito antes da agenda ESG ganhar a atenção de lideranças globais políticas, financeiras e econômicas. É claro que o mundo corporativo se adequa às mudanças de cenários externos – e eles se transformaram de forma profunda nas últimas décadas, com a evidência das mudanças climáticas e o amadurecimento dos diversos atores sociais, incluindo aí o mercado. O Brasil, por suas características naturais e históricas, sempre demandou que empresas usassem seus recursos – via investimentos –, sua energia e conhecimento para contribuir com transformações que o levassem a ser um país mais próspero e justo. Esse cenário foi acompanhado por mudanças regulatórias, sobretudo no que se refere ao respeito e à preservação de nossos ricos e fundamentais ecossistemas.

Nos últimos tempos, temos assistido a discussões cada vez mais frequentes sobre o papel que o mundo corporativo deve incorporar daqui para a frente. Haverá uma reversão na agenda ESG? As empresas darão marcha à ré nas suas iniciativas sociais e ambientais?

São perguntas complexas, sem uma resposta definitiva, sem generalizações possíveis. É fato que, recentemente, grandes corporações empresariais e financeiras – sobretudo, nos Estados Unidos – anunciaram mudanças significativas em suas agendas socioambientais, principalmente no que se refere a políticas de diversidade e inclusão e descarbonização. Mas isso não pode – pelo menos até o momento – ser confundido como uma tendência global. Até porque as realidades jurídicas e regulatórias de cada país variam de forma significativa e influem diretamente na atuação empresarial.

A verdadeira agenda ESG tem de estar ligada ao conjunto de princípios e valores de cada organização. Esses princípios e valores não mudam de acordo com os ventos. Estão enraizados na cultura e no jeito de ser das organizações. Empresas que se enxergam como atores sociais, com poder transformador dentro dos seus limites, investem no aumento do bem-estar da sociedade há muitos anos (não importa o nome que se dê a isso: investimento social privado, filantropia etc.). E vão continuar a fazê-lo.

Mas é muito provável que não apenas as empresas tradicionalmente empenhadas nos pilares do ESG se mantenham nesse trilho. As transformações sociais e ambientais estão moldando a sociedade e as novas gerações de consumidores, que continuarão a pressionar o mundo dos negócios para que ele vá além da geração de valor para acionistas. Essa já é – e continuará a ser – uma imposição de mercado.

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Consumidores continuarão a se relacionar (e a comprar) de empresas com valores e princípios que coincidam com os seus. E os novos consumidores, que agora chegam ao mercado, estão cada vez mais empenhados em apoiar causas sociais e ambientais e a valorizar comportamentos como transparência e ética. A pauta da diversidade e inclusão é hoje uma das mais questionadas por alguns setores da sociedade, em todo o mundo. Mas isso não muda o fato de que times mais diversos ajudam os negócios a entenderem melhor as complexidades cada vez maiores do mercado, gerando inovação. Além disso, a decisão de não valorizar a diversidade implica abrir mão de parcela relevante do mercado de trabalho. É restringir a capacidade de atrair e reter os melhores talentos.

O jogo global é muito mais complexo do que parece. Enquanto alguns países recuam, outros avançam na agenda ESG. E o Brasil, por sua grandiosidade e seu patrimônio natural, será sempre um jogador relevante. Não podemos abrir mão dos nossos trunfos por conta de contingências. Em 2025, o país sediará um dos mais importantes encontros de lideranças globais, em que o futuro do planeta e da humanidade será discutido. É hora de mostrar que governos passam e o nosso legado fica.

*Bárbara Bueno é diretora do Instituto Camargo Corrêa, conselheira do Instituto CCR e membro do Confem-Conselho Superior Feminino da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

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