3tentos: Um laço forte que une produção, indústria e mercado
A gaúcha completa trinta anos com um modelo integrado que combina produção de grãos e biocombustíveis, buscando aliar crescimento e sustentabilidade
O nome da empresa gaúcha 3tentos remete a um tipo de laço usado no manejo de gado no Sul do Brasil, feito com três tiras de couro — os “tentos” —, símbolo de resistência. A inspiração reflete a proposta da empresa: unir produtor, indústria e mercado. Fundada em 1995, a companhia completa trinta anos consolidando um modelo integrado, que engloba fornecimento de insumos, compra da produção e processamento industrial, com forte expansão geográfica e atuação internacional crescente.
A trajetória se traduz em números expressivos. Atualmente, a 3tentos mantém 73 lojas — 59 no Rio Grande do Sul e catorze em Mato Grosso — e três usinas de biodiesel. Em 2026, vai inaugurar uma nova unidade para a produção de etanol de milho. A expansão em Mato Grosso, iniciada após a abertura de capital, em 2021, tem sido estratégica. Em 2024, a empresa alcançou receita líquida de 12,4 bilhões de reais, lucro de 758 milhões e rentabilidade de 18,8% sobre o patrimônio. “Somos uma empresa de crescimento e resultado — sempre buscamos as duas coisas simultaneamente”, afirma o presidente João Marcelo Dumoncel. Segundo ele, a companhia cresce 30% ao ano há catorze anos.
O principal produto hoje é o biodiesel, feito a partir de óleo de soja. A empresa também incentiva o cultivo de canola como alternativa de inverno no Rio Grande do Sul, diversificando a oferta de matéria-prima. A expectativa é de avanço com a nova Lei do Combustível do Futuro, que prevê a elevação da mistura obrigatória de biodiesel no diesel de 15% para 20% até 2030.
Cerca de metade da receita da 3tentos vem da exportação de farelo, grãos de soja, milho e trigo para China, Europa e África. Apesar do bom desempenho, o setor enfrenta desafios. O economista Leandro Gilio, pesquisador do Insper Agro Global, aponta que a competitividade brasileira em grãos e biocombustíveis decorre do domínio de tecnologia agrícola tropical e práticas como duas safras ao ano. No entanto, gargalos como infraestrutura deficiente, juros altos e dependência de fertilizantes importados — cerca de 80% do total — expõem o setor a riscos logísticos e geopolíticos.
Somam-se a isso pressões externas crescentes, sobretudo da União Europeia. Para Gilio, o desafio está na coordenação das cadeias produtivas e na disseminação tecnológica. “Há vários instrumentos e tecnologias disponíveis. O desafio principal é a coordenação das cadeias produtivas, a disseminação tecnológica e compreender ‘quem vai pagar a conta’ da implementação”, afirma. O problema se agrava em cadeias como a da carne bovina, em que um único produtor fora da legalidade pode comprometer todo o setor exportador, mesmo sem fazer parte direta do elo produtivo.
Empresas com cadeias mais integradas e controle rigoroso, como a 3tentos, estão mais preparadas. Segundo Dumoncel, a sustentabilidade é parte do modelo de negócios: a companhia adota padrões de rastreabilidade exigidos por importadores e realiza mensuração de carbono em 600 propriedades. “Temos mais de 15 000 produtores cadastrados, todos georreferenciados e com práticas monitoradas em tempo real”, afirma. O futuro do setor dependerá da capacidade de difundir, cada vez mais, essas boas práticas em larga escala.
Publicado em VEJA, outubro de 2025, edição VEJA Negócios nº 19
No Cerrado, nova geração transforma fazenda em modelo de agricultura regenerativa
França anuncia comitê que ajudará a redigir Constituição da Palestina
Conheça o tipo de jantar que está em alta nos hotéis por aqui e no mundo
De uma noite em Versalhes a ida ao espaço: no turismo, o céu é o limite
Vitautas Sakatauskas, o Papai Noel de Osasco, morre aos 84 anos







