Jogo de cintura: modelos de calças e saias de cós baixo estão de volta
Uma das tendências mais polêmicas nos anos 2000 retornou - desta vez, permitida para todo tipo de corpo
“Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, o seminal conceito criado pelo químico francês Antoine-Laurent de Lavoisier (1743-1794), relacionado a eventos da natureza, pode tranquilamente ser aplicado à moda. Especialmente se levarmos em conta o tal ciclo dos vinte anos, período no qual estilos vêm e vão e, passado esse tempo, retornam à cena. É o caso da cintura baixa, que, mesmo despertando amor e ódio, está de volta com força. É movimento que marcas internacionais como Isabel Marant, Fendi, Diesel, Vivetta e Courrèges tinham previsto nos desfiles para o verão de 2023. Contudo, os cortes chegam revisitados, comme il faut: se nos anos 2000 eles eram justíssimos ao corpo, em modelos skinny, com cós pouca coisa acima da pélvis para evidenciar a barriga chapada e o umbigo cheio de piercings, como usavam as musas Britney Spears, Christina Aguilera e Paris Hilton, agora surgem com modelagens mais largas e um tantinho para cima, alguns dedos abaixo do umbigo, adaptados às tendências de conforto e nostalgia que, vira e mexe, são trazidas à tona pela estética Y2K (“year 2000” ou “ano 2000”, em português). “A cintura baixa voltou a ser uma realidade no mundo inteiro”, diz a stylist Manu Carvalho.
A tendência, insista-se, vale para todos os corpos. Há duas décadas, ainda imperava a tola regra de que para vestir uma calça de cintura baixa era preciso ter forma enxuta. Hoje, as versões podem — e devem — ser usadas por quem delas gostar, e ponto. “Se antes o modelo era excludente, agora qualquer mulher pode usá-lo e está tudo bem”, diz Manu. Essa quebra de paradigma ganhou força no começo do ano passado, quando a revista i-D pôs a modelo plus size americana Paloma Elsesser na capa usando uma minissaia de cintura baixa da Miu Miu. Por isso, e ao que tudo indica, pode não ser modismo passageiro, dado o teor democrático, embora magnetize prioritariamente a geração Z, de fãs influenciados pelo onipresente TikTok (as hashtags #lowwaist e #calçacinturabaixa alcançam expressivos 69 milhões de visualizações). Há, claro, porta-vozes como a atriz Isis Valverde e a top model Alessandra Ambrosio, além de estrelas internacionais com a força da atriz Zendaya e da cantora Dua Lipa.
Um aviso, portanto: se você não estiver dentro de uma calça ou de uma saia de cintura baixa, alguém ao seu lado estará, sem constrangimento. Vale a dica perene do estilista britânico Alexander McQueen (1969 -2010), amante da liberdade e do gosto sem censura alguma: “A moda deve ser uma forma de escapismo, e não de prisão”. E muito menos de julgamentos.
Publicado em VEJA de 8 de fevereiro de 2023, edição nº 2827