Nos últimos anos, a indústria do luxo espalhou sua influência por diversos setores econômicos. No turismo, segmento sempre aberto a novidades, a tendência da vez elevou o requinte para níveis ainda mais altos. Agora, grifes consagradas passaram a emprestar seus nomes para empreendimentos hoteleiros e o sucesso das investidas só reforça a capacidade dessas marcas para seduzir o público. Há alguns dias, o movimento ganhou um ilustre representante. O Vermelho, hotel assinado por Christian Louboutin, foi inaugurado na pacata freguesia alentejana de Melides, em Portugal. Quem caminha pela aldeia costeira não imagina que o interior do prédio azul e branco, inconfundivelmente português com seu telhado em terracota, guarda a sofisticação do designer francês que tornou famosos os sapatos de solado vermelho. Com apenas treze quartos, o hotel possui 7 000 azulejos pintados a mão e itens decorativos que pertenceram à coleção particular de Louboutin. A marca registrada do estilista também é onipresente — as solas vermelhas se veem representadas nas linhas dos bordados, no tecido dos estofados, na tintura dos batentes e nas cerâmicas. Tudo isso por diárias que podem passar dos 800 euros, ou cerca de 4 300 reais.
A inauguração vem na esteira da notável expansão do mercado de luxo, que cresceu 20% em 2022, mesmo em um cenário de crise econômica global. Não à toa, Bernard Arnault, dono do conglomerado LVMH, que abarca marcas como Christian Dior, Fendi, Givenchy e Louis Vuitton, se tornou o homem mais rico do mundo. Ele próprio descobriu na hotelaria uma forma de fazer mais dinheiro. Em 2018, comprou a rede Belmond, que administra, entre outras casas estreladas, o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Desde então, o caixa de Arnault tem sido reforçado de forma vigorosa. “O crescimento expressivo da hotelaria de luxo nos últimos dois anos e meio foi potencializado pela pandemia”, constata Carlos Ferreirinha, fundador da MCF Consultoria.
Não poderia ser mais apropriado associar marcas que construíram sua fama no mundo da moda ao universo do turismo. A Versace foi uma das primeiras a inaugurar um empreendimento grifado, o Palazzo Versace, no estado de Queensland, na Austrália. Karl Lagerfeld empresta sua fama para um prédio de 200 quartos em Macau, na China. Em Dubai e em Milão, Giorgio Armani assina diversas hospedagens cinco estrelas. Em Paris, 33 quartos têm o design neoclássico da Lacroix. Quem busca por experiências oferecidas pela Gucci ou Dior terá de disputar suítes do histórico Savoy, em Londres, ou do prestigiado Regis Hotel, em Nova York. Entre todas, a Bulgari foi a mais ambiciosa, com a sua linha de hotéis e resorts estabelecidos em oito metrópoles. Até 2026, diz a empresa, pelo menos mais quatro empreendimentos serão erguidos.
Como não poderia deixar de ser, as marcas oferecem aos hóspedes mimos exclusivos, como traslados em limusines e telefones gratuitos para chamadas internacionais. Uma experiência comum é a gastronomia requintada — seus restaurantes são chefiados por cozinheiros com estrelas Michelin. Campos de golfe e praias privativas também fazem parte dos pacotes. Viajar é ótimo, mas desfrutar do alto requinte pode ser melhor ainda.
Publicado em VEJA de 17 de maio de 2023, edição nº 2841