Promoção do Ano: VEJA por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

Thomas Traumann

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
Continua após publicidade

Um país de extremos

Livro de Pedro Nery mostra como a desigualdade impede o crescimento do Brasil

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 jul 2024, 08h00

O destino da imensa maioria dos brasileiros já está traçado no nascimento. São necessárias nove gerações para que o filho de uma família pobre alcance a renda média do país, enquanto no Chile ou na Argentina essa mobilidade se dá em até três gerações. Dois de cada cinco adolescentes brasileiros vivem na pobreza, entre eles a metade dos jovens negros, e mesmo programas de êxito comprovados como o Bolsa Família são incapazes de, sozinhos, permitir que os filhos superem as condições de vida dos pais. No ponto oposto da pirâmide, a parcela do 0,1% de brasileiros mais ricos concentra mais de 10% da renda e o agronegócio, dínamo da economia neste século, paga de Imposto Territorial Rural apenas um milésimo dos tributos nacionais. É difícil ser otimista com o Brasil diante destas estatísticas, mas o livro Extremos – um mapa para entender as desigualdades do Brasil (editora Zahar/Companhia das Letras, 119 reais, o livro físico, 39,9o reais na versão online), do economista Pedro Fernando Nery, é um roteiro para colocar os indicadores em perspectiva.

“Para trabalhar com política pública é melhor que você seja otimista ou então não faz sentido. Da Constituição para cá tivemos avanços: o Brasil reduziu enormemente analfabetismo, a queda na mortalidade infantil foi tão expressiva que ganhamos 10 anos de expectativa de vida e o Bolsa Família teve um papel crucial na redução da pobreza e da pobreza extrema. Mesmo nestes últimos 10 anos tumultuados, aprovamos as reformas da previdência e tributária e o Bolsa Família triplicou de valor. Há muito a fazer, mas também motivos para não deixar as coisas como estão”, disse Nery.

Para ressaltar as distorções, Nery usa, como diz o título do livro, exemplos extremos. Ele viaja para Ipixuna, a 2.800 quilômetros de Manaus por rio (equivalente à distância entre Porto Alegre e Salvador por estrada), para retratar a miséria na Amazônia oriental, em comparação ao bairro paulistano de Pinheiros, com indicadores de desenvolvimento semelhantes aos da Noruega. O Distrito Federal, a mais rica unidade federação, serve de contraponto ao Maranhão, a mais pobre. O bairro paulistano do Morumbi, de maior longevidade, é o reverso de Mocambinho, bairro de Teresina onde a taxa de mortalidade passou dos 40 para cada mil nascidos vivos. A cidade gaúcha de Nova Petrópolis, onde há a maior concentração de aposentados, é a outra face da potiguar Severiano Melo, onde moram proporcionalmente o maior número de beneficiários do antigo Auxílio Emergencial. Em cada destino, Nery ilumina uma aberração da desigualdade brasileira.

O combate à desigualdade, afirma Nery, passa por uma reforma de renda.

“Existe espaço para ampliar a arrecadação sobre os mais ricos no Brasil. O Brasil tem de fato uma carga tributária alta, mas ela é muito mal distribuída. Já seria um grande avanço fazer os mais ricos pagarem os 27,5% de alíquota de imposto de renda como os demais brasileiros”, diz.

Continua após a publicidade

O debate proposto por Nery passa pelo Congresso, onde são crescentes as resistências à revisão de isenções tributárias e aumentos de impostos. “Existem resistências, mas esse debate precisa ser posto. Por uma ótica só econômica, a desigualdade é um entrave para o crescimento. O Brasil não terá uma melhora na produtividade dos seus trabalhadores com crianças malnutridas e sem oportunidade de educação”, afirma.

Segundo ele, debates como a revisão das vinculações de benefícios sociais ao salário mínimo, como o Beneficio de Prestação Continuada (BPC) e o abono salarial, devem ser feitas depois da taxação sobre a distribuição de dividendos. “Como vou falar de rever o BPC quando ainda aceito uma alíquota de 0% do imposto de renda para pessoas que ganham R$ 300.000 por mês de dividendos? Enfrentar a questão fiscal é uma questão de coesão social”, afirma. Além da cobrança sobre dividendos, Nery defende no livro uma maior tributação sobre heranças, propriedades rurais, uma reforma da previdência dos militares e funcionalismo público dos Estados e políticas sociais focadas em crianças e mães, com ênfase nas creches.

Embora assessore o vice-presidente Geraldo Alckmin, Nery não é próximo ao PT e teve vários embates com economistas do partido ao longo de 2019, quando foi um dos principais consultores do Senado na aprovação da reforma da previdência. A influência das ideias defendidas em Extremos é justamente por não ser um livro de propostas do governo Lula. O livro é uma indicação de como a discussão sobre equilíbrio fiscal e tamanho do Estado nos próximos anos só terá apoio de parte preponderante do campo progressista se for acompanhada de uma revisão nos benefícios dos mais ricos.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

3 meses por 12,00
(equivalente a 4,00/mês)

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.