Atentas à ascensão da Coreia do Sul, que dominou o entretenimento com sua música e teledramaturgia nos últimos anos, plataformas como Netflix e Apple TV+ vêm apostando alto na produção de conteúdo asiático para agradar a seus assinantes afeitos a doramas — as novelas japonesas, coreanas ou chinesas — e animes — desenhos animados baseados em mangás. A qualidade e apelo pop dessas produções ganharam o mundo graças aos gigantes mundiais do streaming — mas, na verdade, eles contêm só uma fração desse fenômeno. As produções made in Asia hoje são celebradas em plataformas de origem local que ganham cada vez mais musculatura no mundo — inclusive no Brasil. É o caso de três serviços de streaming destinados exclusivamente a fãs da cultura oriental: Rakuten Viki, que abriga séries e filmes de China, Coreia do Sul, Filipinas, Japão, Tailândia e Taiwan; Crunchyroll, famosa por um extenso catálogo de animes; e a China Zone, que chegou recentemente aqui com oferta de tramas chinesas que misturam romance com fábulas milenares.
O tamanho dessas equivalentes asiáticas da Netflix impressiona. Fundada por uma startup de Singapura, a Viki foi comprada pela japonesa Rakuten e virou a maior produtora e distribuidora mundial de doramas. Atualmente, ostenta 63 milhões de usuários em 250 países (ante 220 milhões da Netflix). Com 6 milhões de consumidores, o Brasil é um dos países que mais acompanham séries como Mergulhando em Seu Sorriso — um romance juvenil entre dois gamers. Só aqui, o serviço registrou crescimento de 55% do ano passado para cá. Segundo o CEO da empresa, Sam Wu, o brasileiro é o melhor público-alvo do negócio, por ser engajado nas redes sociais. “Os dramas asiáticos parecem novelas e prendem a atenção com belos atores e produções de ponta. Os brasileiros são muito passionais e até obcecados por tramas assim, o que para nós é ótimo”, disse a VEJA o taiwanês radicado nos EUA.
Popular com os fãs de animes de 200 nações, o Crunchyroll oferta mais de 1 000 títulos, além de estar disponível em dispositivos móveis, inclusive consoles de videogames. É a plataforma preferida dos amantes de Dragon Ball, Naruto e Os Cavaleiros do Zodíaco. Para agradar à base de fãs, a empresa começou a dublar seus conteúdos, além de fazer transmissões simultâneas de produções lançadas no Japão. Em agosto de 2021, a empresa anunciou que tinha 120 milhões de usuários, sendo 5 milhões de assinantes pagantes. Entretanto, em março deste ano, a companhia foi fundida com a Funimation, outra plataforma de streaming de animes, e parou de divulgar o número exato de consumidores devido a uma formulação em sua política interna. Apesar disso, a Crunchyroll afirma que tem 120 milhões de seguidores nas redes sociais.
Disponibilizada no Brasil desde julho por meio da plataforma CB Midia, a China Zone é claramente parte de um esforço do governo chinês para alavancar a cultura do país no exterior. Mas ainda caminha para ser relevante como as concorrentes. Seu diferencial é dispor de tramas históricas e programas que louvam a contribuição da China ao mundo. O tradicionalismo embala obras como Tecendo uma História de Amor, que segue uma jovem costureira em luta contra um imperador opressivo, enquanto vive um grande amor. “O Brasil conhece pouco o estilo de vida chinês. A companhia surgiu dessa vontade de levar um pedacinho de nossa cultura para cada brasileiro”, diz Arthur Chen, empresário da CB Midia.
Cavaleiros do Zodíaco Série 1 Seiya Pegasus
Para além dos enredos com romances rasgados, aventuras históricas e desenhos, esses serviços têm como grande atrativo o fato de serem mais acessíveis financeiramente, oferecendo planos de assinatura gratuitos — desde que o usuário não se importe em ver anúncios. Um modelo de negócio tão interessante que será adotado pela Netflix em breve para baratear assinaturas. “O streaming descortinou um mundo pluralista em todos os aspectos da produção cultural. Vivemos uma nova era digital, e a grande novidade é o avanço do entretenimento asiático”, avalia Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana. Os streamings asiáticos saciam a sede por esse nicho e provam aos rivais ocidentais que estão dispostos a brigar pela maior preciosidade do mundo tecnológico: o assinante.
Publicado em VEJA de 2 de novembro de 2022, edição nº 2813
*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.