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Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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Como a quarentena tem mudado hábitos que podem salvar a TV

Período pode agregar novo valor à televisão, que perdia espectadores, ao mostrar que ela não é inimiga de plataformas como a Netflix

Por Tamara Nassif Atualizado em 25 mar 2020, 11h03 - Publicado em 24 mar 2020, 19h16
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  • Salas de cinema e teatro fechadas, shows e festivais de música adiados, museus trancados, gravações de seriados interrompidas. Mundo afora, a pandemia do coronavírus tem golpeado a área da cultura em uma perda de bilheteria já estimada na casa dos 5 bilhões de dólares. Mas, em tempos de isolamento social e quarentenas, um segmento do entretenimento ganha um novo impulso: o da televisão e das plataformas de streaming.

    O crescimento de audiência, que pode ser apenas um reflexo natural da quarentena, também pode ser indicativo de que mudanças de hábitos de consumo de entretenimento batem à porta. Antes da crise provocada pela Covid-19, a TV por assinatura estava no quinto ano consecutivo de perdas em massa de assinantes e, só em 2019, registrou uma queda de 10% na audiência em relação ao ano anterior, de acordo com o Painel Nacional de Televisão (PNT). A TV aberta também emagrecia consideráveis pontos percentuais anualmente.

    Agora, com o número de televisores ligados cada vez maior e com opções de entretenimento fora de casa muito restritas e expressamente desaconselháveis, o jogo mudou. Segundo a assessoria de imprensa da Rede Globo, só na última semana o número de espectadores em programas de jornalismo e de entretenimento tem batido recordes.

    Houve um aumento de 23% da audiência da semana passada em relação à média desse ano: de 13 pontos para 16. Esse índice semanal é o maior da última década e só é superado pela Copa do Mundo de 2010, que atingiu 17 pontos no período das oitavas de final. O Jornal Nacional registrou um crescimento de mais de 6 pontos, na melhor média semanal em oito anos, e o reality-show Big Brother Brasil bateu 31 pontos de média na última sexta-feira. O canal fechado de notícias intermitentes GloboNews assumiu a primeira colocação no ranking de TV por assinatura e, com quase 12h de noticiário sobre a pandemia, só na última quinta-feira (19) teve um aumento de 139% de audiência em relação à média desse dia da semana.

    Já as operadoras de TV fechada aproveitaram o momento para aliar uma pitada de solidariedade com outra dose de marketing: boa parte das empresas que oferecem canais pagos no país liberaram sua programação para não-assinantes. A ação para apaziguar o período de quarentena é também um momento de degustação, que pode trazer de volta assinantes.

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    Já o streaming, antes visto como inimigo dos cinemas e da TV, hoje é alternativa e até aliado. Com um catálogo crescente de filmes, séries e reality-shows, eles agora abrigam títulos que estavam em cartaz e tiveram suas bilheterias arruinadas pelo coronavírus. É exemplo disso O Homem Invisível e A Caçada, da Universal Studios, que, nos Estados Unidos, entraram como Video On Demand (VOD), em um esforço para tentar minimizar o prejuízo a partir do aluguel dos filmes a 20 dólares cada.

    Em pesquisa realizada pela empresa Nielsen Media Research, o consumo de streaming pode aumentar em mais de 60% durante as quarentenas. E a expectativa tem se confirmado: a Netflix reduziu a qualidade de transmissão na Europa para garantir o acesso da população local à internet. “Imediatamente nós desenvolvemos, testamos e implantamos uma maneira de reduzir o tráfego da Netflix nas redes em 25% — começando pela Itália e Espanha, que estavam experimentando o maior impacto. Dentro de 48 horas, atingimos essa meta, então passamos a implantar este procedimento no resto da Europa e no Reino Unido”, informou a vice-presidente de entrega de conteúdo da empresa, Ken Florance, em comunicado.

    Aqui no Brasil, a redução vai começar a valer a partir dessa semana e, em até dois dias, deve ser implementada em todo o território nacional. A Globoplay adotou medida semelhante e, em nota, afirmou que vai “gerar um perfil de consumo de tráfego mais conservador para evitar um possível colapso da infraestrutura de troca de tráfego público”. A plataforma brasileira, que disponibilizou parte do catálogo para não assinantes, na primeira quinzena de março, experienciou um crescimento de 225% no consumo de conteúdo em relação ao mesmo período em 2019.

    Ao que tudo indica, é possível que exista uma mudança de hábitos em curso e o grande protagonista dela é o entretenimento dentro de casa. Outros setores culturais também têm mexido os pauzinhos: editoras de livros permitiram que alguns títulos em e-book pudessem ser baixados sem custos, famosos têm adiantado o lançamento de novos álbuns e singles, além de inovarem em shows por live-stream no Instagram, museus disponibilizaram gratuitamente visitas online aos acervos. Enquanto o mundo do showbiz ainda sofre com o baque do coronavírus, dentro de casa a oferta nunca foi tão grande. E tão consumida.

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