Por empoderamento feminino, app de transporte não aceita homens
Aplicativo que opera em Porto Alegre e outras cidades brasileiras busca estimular independência financeira de mulheres
No final do ano passado, a gaúcha Marcia Wolff, de 56 anos, decidiu que trabalharia por conta para enfrentar a crise financeira que afetou ela e outros cerca de 13 milhões de desempregados no país. Assim como muitas pessoas que buscam uma alternativa de renda, Márcia optou por ser motorista de aplicativo. Trabalhando em Porto Alegre, a diferença entre ela e a maioria que seguiu esse caminho é que Márcia transporta exclusivamente mulheres. No aplicativo escolhido por ela, nenhum homem é autorizado a dirigir ou a contratar uma corrida.
“Elas entram no carro e adoram que a motorista seja mulher. Acho que elas gostam dessa cumplicidade. É muito bacana, é uma relação de intercâmbio. Muitas relatam que sofreram assédio de motoristas homens, mas percebo que está se tornando comum a situação de passageiras que querem apoiar outra mulher”, contou Márcia, que atende pelo aplicativo Venuxx.
Se a motivação inicial para buscar uma motorista mulher era a segurança, a justificativa pela procura desse tipo de serviço tem passado a ser, cada vez mais, impulsionar financeiramente outras mulheres, dando preferência para negócios femininos, explica Gabrielle Jaquier, diretora da Venuxx.
“É uma oportunidade e uma ferramenta para fortalecer a independência financeira das mulheres. Se fala muito em segurança, mas o principal ponto é o empoderamento feminino”, diz a diretora. As motoristas ganham cerca de 15% a mais por corrida do que em outros aplicativos.
Porto Alegre foi a primeira cidade a receber o serviço da empresa. A Venuxx tem sede em São Paulo, foi criada há dois anos por quatro sócios com um investimento inicial de 400.000 reais. Na capital gaúcha, o aplicativo conta com cerca de 300 motoristas. O crescimento mensal na cidade, tanto no número de clientes como de motoristas cadastradas, é de 40%, segundo Gabrielle. Além de Porto Alegre, Belém, Belo Horizonte e Brasília contam com o aplicativo. As próximas cidades que devem receber o serviço são Goiânia e Salvador.
De acordo com a Márcia, diversas mães usam o aplicativo para chamar uma corrida para seus filhos porque é possível acompanhar o trajeto por outro telefone por meio do chamado botão SOS e porque confiam mais em outra mulher do que em um homem para essa função. Meninos de até doze anos são permitidos, já os garotos de 13 a 16 anos são aceitos como passageiros desde que acompanhados por uma mulher. Além disso, é possível “favoritar” uma motorista e ela receberá a preferência na chamada caso esteja perto do local da passageira.
“Como só mulher pode solicitar e só mulher pode se cadastrar, a gente bate muito nesse fortalecimento, é uma ajudando a outra”, conclui Gabrielle.