Marçal x Bolsonaro, Anielle x Silvio: o que essas brigas têm em comum
Identitarismos de esquerda e de direita estão em guerra. Mas não necessariamente uns contra os outros.
Pablo Marçal foi ao comício de Bolsonaro na Avenida Paulista, mas não subiu ao palanque. Diz que foi barrado. O principal organizador do evento, o pastor ultrabolsonarista Silas Malafaia, proclama aos quatro ventos que Marçal chegou atrasado, quando o evento já tinha acabado e Bolsonaro estava descendo do palanque. Quem quiser que se dê ao trabalho de descobrir quem está mentindo.
Se Marçal chegou tarde, seus apoiadores chegaram cedo e estenderam uma gigantesca bandeira com os dizeres “Bolsonaro parou. Marçal começou. Pablo Marçal presidente do Brasil”. O bolsonarismo respondeu com vídeos extremamente agressivos, chamando Marçal de “arregão”, aproveitador e traidor.
A extrema direita — que é identitária, não luta por ideias, mas por valores morais — está em guerra consigo mesmo.
Enquanto isso, na cúpula do governo Lula, dois campeões do ativismo identitário, Anielle Franco e Silvio Almeida, antes amigos bem próximos, estão em violento conflito, sendo que o último foi demitido sumariamente. Ativistas radicais do feminismo e do movimento racial estão atônitos.
A esquerda identitária está atônita — e em guerra consigo mesma.
Movimentos altamente intolerantes, como é o caso dos identitarismos, têm o hábito de se fragmentar e de devorar seus criadores. É irônico que isso ocorra com o identitarismo de direita exatamente no mesmo instante em que ocorre com o de esquerda.
Deve existir uma moral em algum lugar.
(Por Ricardo Rangel em 09/09/2024)