Uma praia de 150 milhões de reais com ondas sobre a grama
O surfe virou atrativo de alguns dos maiores condomínios de campo de luxo do país
Os americanos criaram o termo Brazilian Storm para definir a tempestade de títulos que os surfistas nacionais da geração Gabriel Medina começaram a acumular no circuito profissional. Por aqui, além de transformar em celebridades os novos campeões, o sucesso internacional dos rapazes ajudou a popularizar ainda mais uma modalidade no país. O circuito tem hoje um perfil muito diferente daquele caráter marginal dos pioneiros que acampavam nas praias do Rio e de São Paulo. Com o crescimento do número de adeptos, os tempos de atividade underground malvista pelo establishment ficaram para trás e começou a jorrar dinheiro nesse mercado, viabilizando a chegada de materiais e de tecnologias de ponta para o país, a exemplo das praias artificiais para a prática do esporte. Foi por obra de alguns investidores visionários que o Brasil entrou nessa onda e o pico dela acontece agora, enquanto diferencial de condomínios de luxo de campo.
Coube a uma das lendas do surfe, o americano Kelly Slater, o impulso definitivo para a modalidade começar a ser praticada em piscinas com ondas. Em parceria com o engenheiro mecânico Adam Fincham, ele criou o Surf Ranch na Califórnia, concebido para gerar sequências perfeitas de ondulações. Logo, além dos Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália começaram a oferecer essa alternativa à turma profissional da parafina. Não demorou muito também para a ideia chegar ao Brasil e, num primeiro momento, versões compactas do conceito do Surf Ranch apareceram em torneios esportivos realizados por aqui, em caráter de exibição. Mas era só o começo.
Quem primeiro apostou os tubos no potencial do negócio para o mercado imobiliário foi o condomínio Fazenda da Grama, no município de Itupeva, a 70 quilômetros da capital do estado de São Paulo. A ideia ousada consistiu em disponibilizar a tecnologia para o lazer de surfistas amadores, levando-a para bem longe das praias, Assim, surgiu em julho de 2021 a primeira piscina de ondas no interior paulista. Além de sequências de ondas programadas com altura de mais de 2 metros, a praia artificial tem areias brancas que não esquentam sob o sol, cercadas por suntuosas palmeiras. Essa nova etapa do condomínio de luxo, que já contava com mais de 400 lotes residenciais, foi batizada de Praia da Grama. Ali, os condôminos podem desfrutar dois dos destinos de lazer preferidos em um mesmo lugar: a praia e o campo, além de contar com restaurantes, bar e academia.
O sucesso foi tanto que não demorou para outras incorporadoras seguirem a mesma trilha. Mudando um pouco o tamanho da praia, da faixa de areia e dos serviços em volta, cada projeto disputa o titulo de quem oferece as melhores ondas. A tecnologia WaveGarden da piscina de Kelly Slater e da Praia da Grama é apontada como a melhor pelos especialistas: entrega ondas de qualidade, sem se preocupar em gerar um número grande delas de tempos em tempos. Já a Wave Machines do condomínio Boa Vista Village, no município paulista de Porto Feliz, da incorporadora JHSF, consegue fazer mais ondas em menos tempo, mas não tão bem avaliadas pelos surfistas profissionais. Na verdade, quem tem acesso a esses condomínios não está muito preocupado com esse torneio tecnológico. O importante é subir logo na prancha e curtir o seu Havaí particular campestre. Para colocar os pés nas águas transparentes de qualquer uma das duas praias, o interessado precisa desembolsar, em média, 600.000 reais por um título familiar.
Engana-se quem pensa que o valor do título de acesso a essas praias particulares é capaz de assustar outros empresários a apostarem nesse mercado. No vácuo desses dois projetos já consagrados, outros estão sendo construídos. Um em Santa Catarina e outros três em São Paulo. Uma das novas “praias” paulistas faz parte do projeto de um condomínio residencial a ser lançado no interior de São Paulo, na Fazenda Vista Verde, no município de Araçoiaba da Serra. Adrian Estrada, CEO da Luan Investimentos, responsável pelo futuro empreendimento, acredita que o sucesso dessas praias artificiais não seja uma marolinha. Segundo ele, há ainda mercado para mais iniciativas do tipo. A previsão é que, até 2025, o número no Brasil chegue próximo a dez.. E tão exclusivo quanto usufruir esses espaços é colocar em pé toda essa estrutura. Entre importação de todas as peças, montagem e os amenities de lazer em torno da praia, o investimento total varia de 80 a 150 milhões de reais.