A saga para ressuscitar um edifício histórico da cidade de São Paulo
Uma impressionante reforma transformou espaço decadente em um novo polo de empreendimento dentro da metrópole
Por muitas décadas, o endereço de prestígio dos endinheirados paulistas que buscavam atendimento medico e planejavam o nascimento de seus filhos com acesso ao luxo foi o Hospital Humberto I, mais conhecido como Hospital Matarazzo, erguido em 1904. Faz parte do mesmo complexo a Maternidade Condessa Filomena Matarazzo, inaugurada em 1943. As construções ocupavam uma quadra ao lado da famosa avenida paulista. De tão emblemáticos, os edifícios foram tombados em 1986 pelo Condephaat.
Apesar do passado glorioso, o hospital e a maternidade não resistiram ao tempo do mundo dos negócios — acabaram falindo nos anos 90. Depois disso, por duas décadas, as construções ficaram esquecidas e se deterioraram. Mendigos passaram a frequentar o local e o abandono da área contribuiu para aumentar o clima de insegurança na região. Diversas empresas tentaram comprar o complexo, que está um terreno de mais de 30 000 metros quadrados. As restrições decorrentes do tombamento dificultaram a concretização do negócio.
Precisou da perseverança e paciência de um estrangeiro para que o antigo complexo médico pudesse, enfim, dar espaço a um empreendimento à altura da sua história, reocupando o lugar com um imóvel que trouxesse mais importância ao bairro da Bela Vista. Depois de muitos entraves na Justiça e de muitas negativas dos órgãos públicos, o empresário francês Allex Allard, presidente do grupo que leva seu sobrenome, conseguiu comprar em 2011 o prédio ocupado pelo hospital e maternidade. Começava ali o início da transformação do bairro. A cidade de São Paulo também começou a se preparar ali para receber o empreendimento imobiliário mais suntuoso do Brasil. O projeto abriga hotel, complexo de restaurantes, centro cultural, igreja, espaço corporativo e de eventos, além de uma torre residencial. A construção foi concebida também para virar referência na preservação de elementos históricos, misturadas a intervenções contemporâneas.
O Cidade Matarazzo já teve seu dia um marcado com uma super festa onde mais de cem artistas ocuparam os ambientes com musica, arte, gastronomia, enquanto personalidades brasileiras desfilavam pelos corredores no evento conhecido como “Feiot por Brasileiros”. Após muito trabalho, principalmente da engenharia que precisou aplicar técnicas surpreendentes de preservação do patrimônio tombado enquanto levantava um novo e arrojado projeto, em 2022 o empreendimento teve sua primeira fase inaugurada, com hotel seis estrelas da bandeira Rosewood e a torre residencial assinada pelo premiado arquiteto francês Jean Nouvel.
A aposta de Allex Allard em investir em cultura e ressignificar um espaço preservando seu patrimônio parece ter dado certo. Visitar o Cidade Matarazzo é uma experiência. Todos os ambientes são repletos de obra de arte, com detalhes encantadores, desde a entrada dos automóveis para o vallet parking, com uma cortina de linho enorme que dá acesso a um espaço de espera com biblioteca repleta de livros a disposição até os suntuosos restaurantes e bar. A decoração das suítes do hotel segue a mesma linha das unidades residenciais, com muita madeira e objetos que remetem à cultura brasileira, trazendo detalhes inovadores e modernos para o empreendimento. Para quem visita a cidade, vale a pena incluir um passeio pelo empreendimento e conferir toda a beleza e exuberância do lugar.
Para colocar esse projeto em pé, o grupo Allard teve o apoio financeiro de um fundo de investimento chinês e, apesar de não divulgarem precisamente o montante que foi investido até agora, fala-se algo em torno de mais de 1 bilhão de reais. Com seria de se esperar, o valor para quem quer comprar um apartamento na torre residencial também é bem alto. Com metragens que vão de 100 a 600 metros quadrados, a média do metro quadrado das unidades gira em torno de 60 000 reais, ou seja, um apartamento no Cidade Matarazzo já com todos acabamentos de piso e revestimentos de primeira linha custa a partir de 6 milhões de reais.