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Ex-gerentes de financeira são acusados de replicar esquema de pirâmide

Em semelhança com caso da PetraGold, também no Rio de Janeiro, suposto esquema inclui venda pública de debêntures privadas

Por Felipe Erlich Atualizado em 4 jun 2024, 11h04 - Publicado em 5 abr 2023, 14h22

Clientes da corretora BeCapital Investimentos, sediada no Rio de Janeiro, acusam a companhia de operar de maneira fraudulenta, diga-se, em caso muito semelhante ao ocorrido em outra financeira carioca, a PetraGold, na qual dois fundadores da BeCapital trabalharam como gerentes. O esquema seria o mesmo, em que corretores de outras instituições financeiras são contratados pela empresa, levando consigo parte de sua carteira de clientes, e, após a compra de debêntures privadas através de ofertas públicas — prática proibida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), clientes não conseguem reaver seus investimentos. Há inclusive quem tenha alocado recursos tanto na BeCapital quanto na PetraGold, ficando “duplamente lesado”, nas palavras de uma fonte. Em parecer de um interventor judicial motivado por um processo contra a empresa, constata-se a prática de pirâmide financeira, além de um rombo de quase 22,4 milhões de reais em debêntures emitidas e não resgatadas.

A contratação de corretores que construíram relações de confiança com investidores em outras financeiras também se deu na PetraGold, como denunciado pela coluna. Com isso, dois dos fundadores da BeCapital, Calebe Cerqueira e Paulo Ramos Paiva, teriam copiado o que viram na outra empresa, onde tinham cargo de gerente. Uma fonte que trabalhou como corretora em ambas as financeiras relata que, a fim de trazer esses corretores estratégicos para seu negócio, os sócios da companhia os convidaram para uma confraternização em um barco no Rio de Janeiro. O evento teve “tudo do bom e do melhor”, nas palavras da fonte, que coloca a alta comissão ofertada pela BeCapital aos corretores como fator que os fez deixar seus empregos anteriores.

Vale dizer que, em meio a uma briga entre os quatro sócios da empresa — com uma dupla responsabilizando a outra pela derrocada do empreendimento, Cerqueira e Paiva foram afastados de seus cargos. Além disso, Thaylan Cerqueira abriu um processo no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) contra a BeCapital, empresa do próprio irmão, afirmando que fez uma alocação na financeira e não consegue reaver seu patrimônio. No início deste ano, Calebe Cerqueira foi trabalhar com finanças em Curitiba, no Paraná, longe do embate na Justiça carioca, como atestado por Thalyan em mensagens obtidas pela coluna.

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Seguem posicionamentos de Cabele Cerqueira e Paulo Paiva, citados na reportagem, em relação às acusações:

Nota de Calebe Cerqueira

Em resposta à matéria, elenco alguns pontos que considero imprescindíveis para a compreensão da questão.

Os fundadores da BeCapital são Paulo Paiva e Leonardo Duarte, tendo fundado a empresa em março de 2020. Paulo Paiva atuou na PetraGold por apenas 3 meses, uma passagem muito curta para aprender qualquer “esquema”. Eu, Calebe Cerqueira, sou o único que atuou diretamente na PetraGold por mais tempo, porém ingressei na BeCapital quando essa já existia há quase 1 ano e já estava operante. A empresa jamais fez oferta pública dos seus títulos e nem sequer existe qualquer posicionamento da CVM quanto a irregularidades na sua comercialização. Seguimos todas as diretrizes descritas na Lei 6404/76.

Sobre o interventor judicial citado, existe um processo de suspeição contra ele. Uma vez que em sua gestão não se mostrou imparcial e cometeu uma série de atrocidades contra a companhia, como cancelamento de todas a áreas e operações que foram estruturadas e que gerariam receita para a empresa, e utilizou quase todo o capital que havia no caixa da empresa para financiar uma operação de banco digital proposta pelos sócios Leonardo Duarte e Antonio Albuquerque, onde nem mesmo eles souberam informar como essa operação geraria receita e onde o próprio interventor fala que o projeto carece de informações, mas mesmo assim o interventor contrata uma empresa aberta 2 meses antes da intervenção judicial é que até onde nos consta o projeto não foi iniciado e o sistema não foi entregue. 

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Também ressalto que não somente o meu irmão tem processo contra a BeCapital, mas eu também processo a companhia, pois, além de funcionário, também sou investidor e possuo investimentos retidos. Além desse processo tenho outro processo juntamente com um colaborador da BeCapital contra o sócio Antonio Albuquerque que transita em vara criminal pelo fato do mesmo ter se apropriado de nossos recursos totalizando um montante de aproximadamente 600 mil reais.

Sobre a festa no barco, vale ressaltar que a empresa não possuía sede própria na época, sendo assim, a fim de fazer uma festa de fim de ano para seus colaboradores com um menor custo, a empresa contratou uma escuna com serviço de buffet próprio. Foi muito mais barato do que alugar um espaço para fazer a confraternização.

Outro ponto a esclarecer é que não me mudei para o Paraná a fim de fugir de imbróglios judiciais. Mas sim por precisar trabalhar para pagar minhas contas. Sendo assim, ao receber uma proposta de trabalho, aceitei para que pudesse ter condições de sustentar minha família.

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Espero que tão brevemente todos os imbróglios judiciais se resolvam e a verdade venha ser exposta e os verdadeiros culpados sejam responsabilizados por seus atos.

Nota de Paulo Paiva

Gostaria de esclarecer que a BeCapital jamais praticou oferta pública de debêntures durante todo o período que presidi a empresa, e não é uma corretora. As comissões oferecidas pela BeCapital eram iguais ou inferiores às praticadas no mercado. Eu nunca tive qualquer vínculo empregatício com a PetraGold, apenas dei uma consultoria para eles que não durou sequer 3 meses.

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Como exemplificado pelo caso do irmão de Calebe, eu e Calebe tivemos uma gama de contatos pessoais e amigos próximos que aportaram recursos na companhia. Isso é uma das inúmeras provas do quanto eu e Calebe confiávamos no projeto. Sempre fomos empenhados em fazer a empresa crescer e prosperar, diferente de Antônio que nunca teve um cliente sequer na companhia, e, Leonardo, que teve como único cliente sua própria mãe em um título de curtíssimo prazo para capital de giro (não chegou a ficar 6 meses).

Já a festa realizada no barco foi uma festa de fim de ano da companhia, em 2020, e todos os corretores que ali estavam já eram funcionários da companhia contratados previamente.

Eu e Calebe fomos afastados da companhia no dia 17/11/2021. Até esta data a empresa jamais havia atrasado o pagamento de um cliente sequer. Para a manutenção e expansão da companhia nós usávamos quase metade do capital permitido em nossa emissão.

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O interventor mencionado na nota desconhece seus poderes legais, e optou por implementar um projeto dos sócios Leonardo Lopes e Antônio Albuquerque que eles próprios admitiam se tratar de um projeto inconcluso. Projeto este que o próprio interventor concordou faltar números, comprovação de viabilidade, e pesquisas prévias de mercado. Para isso foi contratada uma empresa aberta um mês antes da intervenção com o dono André Azambuja, que cobrou quase 7 milhões de reais para implementar o projeto. Pasmem, o projeto deveria ser totalmente finalizado em até 6 meses, e ao que me consta, não foi entregue até hoje e não gerou nenhum resultado para a companhia.

Essa empresa mudou de nome e de sócio, fato estranho para uma microempresa que faturou quase 7 milhões em seu primeiro trimestre, ainda que se trate de uma ME que não pode faturar mais que 360 mil reais por ano.

O interventor também me proibiu, enquanto presidente afastado, de frequentar a sede da BeCapital e falar com funcionários. Sigo injustamente afastado há mais de ano e meio, e colho frutos da péssima administração posterior a minha saída.

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