Azul vai dominar quase 100 rotas se comprar Gol, critica Márcio Holland
Ex-secretário da Fazenda mostra preocupação com concentração de mercado excepcionalmente elevada
Se a companhia aérea Azul comprar a Gol, cenário especulado por parte do mercado, ela teria controle de 96 rotas no país, sem concorrência. A cidade de Recife (PE) teria 88% de seus voos oferecidos pela empresa resultante da suposta fusão. A alta concentração também ocorreria em outras capitais, como Belo Horizonte (84%), Salvador (70%), Curitiba (68%) e Porto Alegre (65%). Os dados são de estudo conduzido pelo economista Márcio Holland, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A operação resultaria em um duopólio, com a empresa resultante da fusão e a Latam controlando 99,5% dos voos comerciais do país — uma situação inédita para as últimas duas décadas do setor aéreo, segundo o economista.
Em tom crítico, Holland aponta que a empresa resultante da fusão entre Azul e Gol, sozinha, deteria mais de 60% do mercado de aviação comercial do Brasil. O economista compara o contexto com o dos Estados Unidos, país de dimensão e diversidade regional semelhantes às dos Brasil. Por lá, há quatro empresas que se destacam em marketshare, e nenhuma com mais de 18% do mercado, de modo que resta mais de 30% do mercado para uma série de outras companhias.
O professor da FGV lembra que o setor de aviação comercial sempre tende a formar um oligopólio, dada a dificuldade de novas empresas entrarem no ramo, mas argumenta que o resultado de uma fusão entre Azul e Gol elevaria a concentração do mercado no Brasil a níveis preocupantes, especialmente quando comparada a dos EUA. No início dos anos 2000, quando o mercado brasileiro sofreu um grande ‘boom‘, indo de 30 milhões de passageiros por ano para 95 milhões em cerca de uma década, a concentração era menor. À época, as duas maiores empresas detinham 67% do mercado, segundo o estudo. “A competição de mercado permitiu o aumento da oferta de voos com tarifas médias mais acessíveis”, diz o economista.