
2025 será um ano pré-eleitoral decisivo. Para quem ambiciona disputar a Presidência, será a hora de mostrar serviço, construir viabilidade política e consolidar apoios. Mais do que um período de espera, o próximo ano será determinante para o futuro do país. Mas o que, afinal, devemos observar nesse cenário que se desenha? Apesar de resultados econômicos que poderiam ser explorados politicamente — como a queda do desemprego e o crescimento do PIB —, o governo insiste em ofuscar suas conquistas com erros de comunicação, excessos ideológicos, iniciativas revisitadas e declarações lacradoras. A alta dos juros e a disparada do dólar são frequentemente atribuídas à falta de coordenação das narrativas e iniciativas. O governo, ao invés de adotar uma postura pragmática que poderia amplificar seus bons resultados e capturar eleitores não petistas, parece desorientado.
Sabotado dentro e fora do Planalto, Fernando Haddad tem se amparado em alguns bons resultados e no apoio da Faria Lima, que, no entanto, terminam nublados pelas disputas internas de um governo dividido. Parece que já temos, como pano de fundo, uma disputa sobre quem irá liderar o legado lulista quando este deixar a política. Além disso, é óbvia a ambiguidade entre as boas intenções e a capacidade de realizá-las. Assim, no campo da esquerda em 2026, restaria Lula como uma espécie de El Cid brasileiro, que, mesmo ferido, ainda é carregado à frente de batalhas políticas. O carisma de Lula e o antibolsonarismo terminam por dar alguma chance ao PT em 2026. Do outro lado, o bolsonarismo também se atrapalha em suas próprias armadilhas. Figuras caricatas e discursos conspiratórios tomam o lugar de propostas concretas. Parece um enredo elaborado pelos personagens do desenho animado Pinky e o Cérebro e executado pela dupla Fucker & Sucker, do saudoso Casseta & Planeta, Urgente!. Os episódios de tramas golpistas — mais teatrais do que eficazes — apenas reforçam a imagem de um movimento político marcado pela inépcia e pela desconexão com a realidade.
“O surgimento de um polo alternativo ou de uma recomposição ao centro não deve ser descartado”
Sobre a mesa eleitoral de 2026, até agora, temos um cardápio pobre de opções. Por um lado, um governo que comunica mal, administra de forma inconsistente e insiste em lutar contra o pragmatismo; por outro, uma oposição que confunde retórica inflamável com estratégia eleitoral. A grande questão que se impõe é: o que esperar de uma campanha em que os polos são liderados por narrativas tão distantes das preocupações reais do eleitorado?
O ano de 2025 poderá, quem sabe, ser marcado também pela possível emersão de novos nomes e projetos que tentem romper essa polarização disfuncional. A dinâmica da política desde 2013 tem sido marcada por acontecimentos extravagantes e extraordinários. A Operação Lava-Jato, a prisão de Lula, o impeachment de Dilma, a eleição de Bolsonaro, a pandemia e o retorno triunfal de Lula são alguns exemplos. O surgimento de um polo alternativo ou de uma recomposição ao centro — pela esquerda ou pela direita — não deve ser descartado. Os arroubos da ideologia e do radicalismo deveriam dar lugar à serenidade, ao diálogo, à contenção e ao pragmatismo — artigos que, infelizmente, estão em falta nas prateleiras da política.
Publicado em VEJA de 6 de dezembro de 2024, edição nº 2922