
Já na segunda metade de seu terceiro mandato, o presidente Lula (PT) deveria estar refletindo sobre qual será seu projeto em 2026. Se, como tudo indica, ele pretende disputar a reeleição, precisará rever sua pauta econômica, sua estratégia política e a forma como seu governo está funcionando. E, principalmente, precisará ter mais unidade e pragmatismo em suas decisões.
As expectativas em torno da economia apontam para sinais de fragilidade, a inflação pressiona o bolso dos brasileiros e a credibilidade do governo está sendo cada vez mais questionada pelos agentes do mercado. Sem um ajuste de rota, Lula corre o risco de chegar a 2026 fragilizado, enfrentando um ambiente econômico e político muito desfavorável. Se há algo que o governo precisa, com urgência, é de uma estratégia clara para recuperar a confiança do mercado e da sociedade.
“Lula precisa admitir que a confiança do mercado e da sociedade foi abalada”
Os resultados estão à vista: megadesvalorização do real, evasão de divisas e inflação crescente. O reflexo disso pode ser visto nos juros futuros e nos títulos do Tesouro, que revelam a desconfiança dos investidores. Os títulos prefixados para 2027 já oferecem rendimentos acima de 15%, enquanto papéis com vencimento em 2031 e 2035 têm prêmios de 14,96% e 14,82%, respectivamente. O mercado precifica um Brasil instável, onde o risco de financiar o governo aumentou consideravelmente. A tendência é clara: juros mais altos, desaquecimento da economia, redução de emprego e perda de credibilidade do governo. O prognóstico da inflação para o fim do novo ano aponta para o patamar de 5%. Se a prévia da inflação continuar subindo, o fim de 2025 poderá ser marcado por uma deterioração ainda mais grave do cenário econômico. A primeira etapa, em qualquer plano de recuperação, é reconhecer a gravidade do problema. Mas, até agora, o governo parece minimizar os sinais de alerta e transferir a culpa para terceiros. Para inverter essa trajetória, Lula precisa admitir que a confiança do mercado e da sociedade foi abalada e que a política econômica precisa ser ajustada. Nenhuma solução será eficaz sem o reconhecimento do problema.
Atualmente, a crise é atribuída a fake news, à imprensa — que, na verdade, tem sido bastante generosa com a atual gestão —, ao mercado financeiro, ao agronegócio, entre outros. Essa postura lembra a clássica frase de Homer Simpson: “A culpa é minha e eu a coloco em quem eu quiser”. No campo institucional, o governo precisa trabalhar em favor de um pacto mínimo entre Executivo, Legislativo, Judiciário e setor produtivo, para garantir estabilidade e previsibilidade econômica. Também precisa apresentar um plano crível para restaurar a confiança. Entre as medidas necessárias, destacam-se o compromisso com a responsabilidade fiscal, um ajuste na política econômica e um diálogo mais franco com o setor produtivo.
Lula precisa liderar esse processo pessoalmente e voltar a dialogar com o mundo político e os agentes econômicos, conforme fez nos mandatos anteriores. Estamos em janeiro. O presidente ainda tem chance de recuperar o rumo e terminar o ano fortalecido, apesar dos erros cometidos até aqui, ajustar as expectativas e disputar a reeleição em um cenário mais favorável. Mas, para isso, o mindset precisa mudar — e muito. Se nada for alterado, 2026 pode ser muito mais difícil do que ele imagina. Paradoxalmente, Lula 3 precisa muito dos Lulas 1 e 2.
Publicado em VEJA de 24 de janeiro de 2025, edição nº 2928