
A percepção do fracasso sempre chega antes de sua materialização, e é exatamente isso que o terceiro governo Lula vem enfrentando. Embora alguns indicadores econômicos sejam positivos, o presidente mantenha seu carisma popular e não haja escândalos explícitos, a aprovação do governo cai consistentemente, ultrapassando a marca de 50% de desaprovação em diversas pesquisas. Isso ocorre mesmo diante do benefício político proporcionado pelo impedimento judicial de seu principal adversário político.
Desde sua vitória eleitoral, Lula vem rapidamente gastando o capital político acumulado. O presidente estruturou um ministério fortemente simbólico, porém pouco eficiente, com propostas vagas e evidente falta de coordenação por parte do Planalto. Declarações infelizes e episódios frequentes de autossabotagem nas áreas fiscal e econômica reforçam a percepção negativa. O que poderia ter sido um projeto pragmático de reconstrução da esquerda tornou-se apenas uma alegoria política, com fórmulas desgastadas, que não impactam o eleitorado atual.
Outro aspecto crítico é a ausência de uma narrativa clara e ações concretas para enfrentar uma das maiores prioridades da população: a segurança pública. Segundo pesquisa recente da Genial/Quaest, a violência tornou-se a principal preocupação nacional, mencionada por 29% dos entrevistados, ante 26% anteriormente. Os altos índices de criminalidade aumentam ainda mais o desgaste político do governo. Embora Lula ainda tenha chances de reeleição, sobretudo devido à fragmentação da oposição, é preocupante o acúmulo de erros básicos e repetitivos, reforçando a impressão de que sua vitória dependeria mais do fracasso dos adversários do que de seus próprios méritos.
“Embora Lula ainda tenha chances de reeleição, é preocupante o acúmulo de erros básicos e repetitivos”
Enquanto isso, tempo e energia são desperdiçados em disputas internas e ações simbólicas pouco eficazes e nada pragmáticas. Mais grave ainda é a aparente incapacidade de Lula e sua equipe perceberem que o caminho para uma reeleição tranquila passa por medidas práticas e eficazes. Bilhões gastos em publicidade revelam desorganização tática, falta de estratégia e uma leitura equivocada do cenário político atual. Na prática, um governo com popularidade tão fragilizada encerrará efetivamente seu ciclo já em abril do próximo ano, quando a data-limite para a desincompatibilização afetará parte significativa do ministério, os gastos públicos serão limitados e o Congresso Nacional estará completamente absorvido pelas campanhas.
O governo busca antecipar a campanha de 2026 como forma de recuperar o terreno perdido, porém, até o momento, não apresentou resultados concretos. Curiosamente, desde a saída de Paulo Pimenta da Secretaria da Comunicação, anteriormente responsabilizado pelos problemas na comunicação governamental, os índices de aprovação caíram ainda mais. Isso torna evidente que o problema não residia exclusivamente nele nem pode ser atribuído agora a Sidônio Palmeira. Passada mais da metade do mandato, o governo não construiu uma identidade forte, não aproveitou a experiência exitosa dos mandatos anteriores de Lula, isolou-se de antigos aliados, falhou em construir uma relação sólida com o Congresso e não conseguiu desenvolver uma narrativa vencedora. O governo está em maus lençóis e parece não saber disso, tampouco como se livrar deles.
Publicado em VEJA de 4 de abril de 2025, edição nº 2938