Uma das atividades mais importantes e tradicionais do agro mundial é a avicultura de corte, cujo produto principal é carne de frango. A história da proteína animal mais consumida no mundo é antiga, com evidências de que os egípcios e romanos já criavam aves para consumo. No entanto, a avicultura industrial, como conhecemos hoje, só teve um crescimento significativo no século XX, impulsionada por avanços tecnológicos como seleção genética, nutrição animal e aprimoramento dos métodos de manejo. No contexto brasileiro, foram os colonizadores portugueses que introduziram a avicultura de corte durante o período colonial. Desde então, a demanda por carne de frango é crescente, devido à sua qualidade, versatilidade, aspectos nutritivos e preço acessível, alavancando o crescimento do setor.
Na avicultura de corte, o principal produto é a carne. Por conta do alto índice proteico e baixa teor de gordura, cortes como peito, coxa, sobrecoxa, asa e outros são corriqueiros no dia a dia da população global. Produtos processados como nuggets, salsichas, empanados e embutidos ainda são outros produtos da cadeia. Como subprodutos, a farinha de carne e ossos são utilizadas na fabricação de rações para animais. A indústria de adubos e fertilizantes também se beneficia, uma vez que o esterco de frango é um fertilizante orgânico rico em nitrogênio amplamente utilizado na agricultura. Os subprodutos dessa indústria ainda são encontrados na fabricação de cosméticos e fármacos, devido a componentes como colágeno e queratina.
A cadeia da avicultura de corte é composta por vários elos. Como costumo brincar que uma ave ou um suíno nada mais são do que “soja e milho andando”, evidenciando a importância dos grãos e seus produtores nessa cadeia, uma vez que são matérias-primas essenciais para alimentação. Os produtores de aves são responsáveis pela criação e manejo desses animais, garantindo o bem-estar, alimentação e sanidade adequadas durante todo o ciclo de produção. Na indústria de processamento avícola, ocorre o abate e o processamento da carne dentro dos frigoríficos. Segue-se para a distribuição e comercialização, etapa que inclui atacadistas, varejistas, supermercados e restaurantes. Também são de grande importância na cadeia da avicultura de corte as indústrias fornecedoras de insumos como ração, medicamentos, vacinas e equipamentos, além de empresas de genética avícola, consultores, veterinários, profissionais de logística e transporte, associações e órgãos fiscalizadores.
Os números destacam a importância e o impacto do setor. O Brasil, maior produtor global, produziu em 2023 em torno de 15 milhões de toneladas da proteína, um recorde histórico. Em número de animais abatidos, foram mais de 1,5 bilhões, sendo que a região Sul contribui com quase 60% desse total. Os principais produtores são o Paraná (34%), Santa Catarina (13%) e Rio Grande do Sul (12%). O Brasil também se destaca no comércio global, fato reforçado pela parcela de mais de 34% da produção brasileira destinada para o comércio externo. Em 2023, foram 5,1 milhões de toneladas exportadas, também representando um recorde.
Olhando para os próximos 10 anos, o comércio internacional de frango deve somar 16,7 mi de t (+ 3,2 mi de t ou + 23,7%); México será o grande importador com 1,5 mi de t ou 11,1%; e o Brasil o principal fornecedor, com 6,8 mi de t, com quase 41% de participação, segundo o USDA.
O futuro da avicultura de corte no Brasil será moldado por desafios e tendências. A maior delas é a crescente demanda interna, impulsionada pelo aumento do consumo per capita de carne de frango no país, que já supera os 45 kg por ano. Por outro lado, questões de saúde, como a influenza aviária, têm exigido investimentos em biossegurança e vigilância epidemiológica para garantir a saúde e a segurança alimentar das aves. A avicultura de corte enfrenta obstáculos, mas também oferece perspectivas pujantes de crescimento nos próximos anos. Fica aqui o nosso reconhecimento aos milhares de profissionais e produtores envolvidos com esta cadeia, e em especial ao time da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), que tem realizado um trabalho tão relevante de quantificação e acompanhamento do setor. Viva o frango!
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinicius Cambaúva e Rafael Rosalino.