Os pagers começaram a explodir no Líbano durante a manhã e, ao longo de uma hora, não pararam. Figurões do Hezbollah, militantes comuns e até o embaixador do Irã em Beirute foram atingidos. Não existe nenhum precedente na história da guerra que se assimile à sabotagem em massa dos equipamentos, usados justamente para substituir os celulares e diminuir o risco dos assassinatos pontuais desfechados por Israel.
Os pagers são mais seguros, mas, como os celulares, também funcionam com baterias de lítio. Foram elas que explodiram em consequência do ciberataque. De alguma maneira, os serviços de inteligência israelenses conseguiram se infiltrar na rede libanesa. Várias cenas mostram os efeitos do ataque em massa: numa banca de frutas, próximo de um caixa de mercado, no meio da rua, dentro de carros. Os pagers deixaram feridos nas pernas, no abdômen e nos braços. Um homem perdeu uma mão. Hospitais ficaram lotados de feridos e uma criança morreu.
Quando os pagers começaram a explodir, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o alto escalão já haviam sido deslocados para o local mais protegido de Israel, as instalações subterrâneas na base de Kirya. Previam uma reação violenta do Hezbollah, quem sabe até a guerra em grande escala, em lugar dos ataques mútuos que vinham mantendo uma espécie de ritmo controlado.
A sabotagem em massa dos pagers, como se Israel tivesse infiltrado mais de mil cavalos de Tróia junto ao corpo de terroristas do Hezbollah, foi possivelmente a realização de um plano armado há muito tempo e desfechado agora, em represália pela descoberta de uma bomba planejada para matar um ex-integrante do alto escalão militar israelense.
ALTO RISCO
Ao contrário do que acontece em Gaza, onde o Hamas colocou debaixo da terra toda sua estrutura militar, dificultando o levantamento de informações, Israel tem o Líbano completamente coberto por suas operações de inteligência.
O Hezbollah sabe disso e toma suas precauções, em especial para proteger Hassan Nasrallah, o líder máximo, mas como imaginar um ataque de pagers assassinos?
O risco de um conflito generalizado no Líbano é muito alto e o escalão militar superior israelense tem opiniões divergentes: alguns acham melhor fazer uma espécie de ataque em massa preventivo, considerando que uma guerra é inevitável; outros consideram melhor o fogo baixo dos últimos meses, inclusive para evitar o envolvimento do Irã.
Por qual motivo o Hezbollah ameaça lançar o Líbano em outra guerra devastadora? Por puro fanatismo: não existem disputas territoriais com Israel, ao contrário do caso dos palestinos, e a motivação decorre unicamente do fundamentalismo islâmico, para o qual todos os muçulmanos devem se dedicar com todas as forças a combater Israel até varrer a nação judaica do mapa.
“CAOS E VULNERABILIDADE”
É triste ver o Líbano, com toda a sua variedade de religiões e ramos sectários, correr o risco de ser arrastado de novo para a guerra.
Também são altos os riscos para Israel, que se dividiria entre Gaza e o Líbano. Tudo isso, obviamente, são situações para as quais as Forças de Defesa de Israel são constantemente treinadas, mas qualquer guerra tem um fator imponderável.
Mas a liderança de Israel resolveu pagar para ver o que aconteceria depois da sabotagem em massa dos pagers. Resumiu, no Jerusalem Post, o analista Setz J. Frantzman: “O Hezbollah, um grupo terrorista altamente treinado e disciplinado, agora enfrenta o caos e a vulnerabilidade depois que um grande número de seus membros sofreu ferimentos em razão da explosão de aparelhos de comunicação”.
Jamais houve nada parecido em guerras ou conflitos anteriores, mas vamos ver agora algo que sempre acontece nessas situações extremas: o inimigo retalia ou sofre uma humilhação sem precedentes.