A direita populista ou nacionalista está perdida – e, mesmo assim, cresce
Giorgia Meloni iria implantar o neofascismo, segundo os inimigos, mas não consegue nem controlar a imigração, um exemplo de problema bravo
Dá até pena ver a primeira-ministra Giorgia Meloni tentando fazer alguma coisa que funcione em relação ao problema que a elegeu: a imigração irregular sem limites.
Na semana passada, ela visitou a ilha de Lampedusa, o primeiro ponto de parada das ondas humanas que chegam da África e da Ásia, em companhia de Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia. Como a burocracia da União Europeia faz parte do problema e não da solução, o gesto de Giorgia Meloni revela um certo desespero. Segundo os adversários, ela era uma perigosa ultradireitista que iria instaurar o neofascismo na Itália. Até agora não fez praticamente nada – inclusive o que seus eleitores esperavam.
Ao longo da semana passada, desembarcaram em Lampedusa 14 mil clandestinos. A população da ilha é de 6 mil pessoas. Há vídeos de estradas bloqueadas por imigrantes com pedaços de pau na mão, exigindo ser mandados para o continente. Dá para imaginar a situação de desespero e revolta dos habitantes.
Em escala muito maior, o fenômeno se repete na fronteira dos Estados Unidos com o México. A imigração descontrolada, mesmo em direção a um país que tem fome de mão de obra, é um dos motivos dos índices altos de desaprovação ao governo de Joe Biden.
E quanto mais Biden cai, mais sobe Donald Trump. A turma do centro para a esquerda tem calafrios, embora frequentemente não analise a fundo os motivos do que está sendo chamado de “nova onda da extrema direita”.
É a perspectiva dessa ascensão que levou a revista The Economist a falar numa “nova onda de populismo ultradireitista na Europa”.
A revista coloca no mesmo balaio um partido extremo, como o Alternativa para a Alemanha, simpatizante da Rússia de Vladimir Putin, com a direita conservadora do Partido da Lei e da Justiça da Polônia. O partido polonês, um dos mais sólidos do mundo na oposição ao neoimperialismo russo, está à frente nas pesquisas para continuar no poder depois da eleição geral de outubro.
Outros países onde há movimentos da direita populista: França, Holanda, Bélgica, Suíça, Áustria, Hungria, Suécia e Finlândia. Mais “Portugal, Romênia e Espanha”, que “durante décadas não tiveram grandes partidos nacionalistas”.
Passando para outro continente, o Chile tem um presidente de extrema esquerda, mas uma direita populista forte, e Nayib Bukele deu um novo sentido à expressão “mão dura contra o crime”. E, acima de tudo, Javier Milei chegou na Argentina para espantar o senso comum e a ideia de que peronistas e a oposição tradicional jamais mudariam a dinâmica política.
Se a Argentina não tivesse mais de 100% de inflação, existiria um Milei? Se as gangues do crime não controlassem El Salvador, a repressão sem precedentes comandada por Bukele conseguiria mais de 90% de aprovação popular? E Trump estaria de volta com uma economia esplendorosa, um presidente cheio de gás e a imigração controlada?
Outro fator que move a direita populista é a “descarbonização na marra”, às vezes com medidas absurdas, como na Holanda, onde o governo quer reduzir a criação de animais de corte simplesmente eliminando fazendas de pecuária. Ou os donos aceitam vender suas terras ou se ferram do mesmo jeito. Resultado: produtores agrícolas desceram dos tratores que usavam para fazer protestos nas estradas e formaram um partido que se tornou o mais votado em eleições regionais.
O maximalismo verde também está propelindo no Canadá o líder oposicionista Pierre Poilievre, principalmente depois da perseguição promovida pelo bonitão Justin Trudeau aos caminhoneiros que não queriam ser obrigados a se vacinar contra a Covid. Como estamos falando do Canadá, ele é um populista moderado. “Para cada dólar gasto pelo governo federal, Poilievre exigiria cortes em alguma outra despesa”, anotou o político. “Ele enfatiza programas de tratamento para drogados em lugar da descriminalização. Quer exportar mais combustíveis fósseis, mas também endossa a energia renovável”.
“Parece estar construindo uma coalizão que faça a ponte entre populistas e conservadores sociais com moderados de centro-direita.”
Seria um feito espetacular nessa era de radicalização. O Canadá certamente não é o único país que precisa de uma direita, ou centro-direita, com apelo mais amplo, menos toxicidade e líderes que mostrem serviço e sejam capazes de suscitar pelo menos algo mais do que o mau humor habitual da Economist com tudo que esteja no espectro direitista.