O tradicional boato sobre “a grande farsa” descoberta na Mega-Sena está de volta. A célebre lorota, que circula de tempos em tempos pelo menos desde 2005, quando nasceu em forma de spam de e-mail, acompanhou a evolução tecnológica e tem sido compartilhada nos últimos dias via WhatsApp.
A corrente garante que “caiu a casa da Mega Sena” e que, “se você faz apostas, está sendo enganado”. Isso porque a Polícia Federal teria descoberto um esquema de corrupção envolvendo “funcionários, auditores, e muito peixe grande”, que “fraudavam o peso da bolinha, fazendo sempre dar os números que eles quisessem e botavam ‘laranjas’ para jogar em diferentes Estados”. Um escândalo bilionário – de mentira. Veja abaixo:
Já acostumado ao noticiário repleto de casos de corrupção de todo tipo em diversas empresas estatais, incluindo na Caixa Econômica Federal, responsável pela Mega-Sena, o leitor fica mais propenso a acreditar em boatos sobre descobertas de negociatas.
No caso da suposta fraude na loteria mais cobiçada do país, no entanto, uma simples busca na internet resolveria o problema. Não há, em veículos de comunicação confiáveis, nem sinal de reportagem sobre a tal adulteração nas bolas do sorteio da Mega-Sena e o uso de “laranjas” para esconder bilhões de reais no exterior. Ao contrário: há notícias falando sobre a falsidade da informação. Se uma corrente de WhatsApp denuncia “complôs da mídia” para não noticiar determinado fato, aliás, é imensa a chance deste fato ser uma grande mentira.
O tom alarmista, que apela por compartilhamentos do conteúdo, e a criação de teorias conspiratórias são outras características comuns a boatos online presentes na lorota sobre a Mega-Sena.
Além das questões formais, em 2015, em meio a uma nova epidemia da notícia falsa, a Caixa elaborou uma extensa nota em que desmoraliza o boato. O banco estatal diz ter tomado conhecimento da corrente em abril e 2005 e, “de imediato”, acionado a Polícia Federal para identificar os responsáveis.
Sobre os sorteios propriamente ditos, a Caixa explicou que eles são “conduzidos e validados formalmente por empregados da Caixa e por outras duas pessoas do público que atuam como auditores populares”. A respeito das bolas, protagonistas do fictício esquema de corrupção, a nota do banco afirma que “são de borracha maciça, numeradas e coloridas para facilitar a identificação, possuem o mesmo peso e diâmetro, características verificadas periodicamente pelo INMETRO”.
A “denúncia” sobre a suposta fraude levou à abertura de um processo de apuração no Tribunal de Contas da União (TCU) em 2006, arquivado naquele mesmo por não terem sido identificadas fraudes na Mega-Sena.
Wagner Digenova Ramos, o advogado que supostamente assina o texto espalhado na internet há 12 anos, e o escritório Pavesio Advogados Associados, onde ele trabalha, também já desmentiram o boato. Em 2006, Ramos e o escritório divulgaram que não têm “qualquer participação” na veiculação da notícia falsa, “e muito menos com o texto ali contido”.
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