O novo caminho das Finanças Regenerativas
Em artigo enviado à coluna, Odair Rodrigues explica mercado de US$ 10 bilhões e que grandes empresas brasileiras têm adotado

O cenário econômico global vive um momento de incerteza. Tensões geopolíticas, mudanças nas políticas fiscais e o impacto das ações do governo americano têm provocado instabilidade nos mercados tradicionais. Em contextos de crise, como quando as principais bolsas do mundo enfrentam quedas abruptas, fica evidente a fragilidade dos sistemas financeiros convencionais. É nesse contexto que surgem, com ainda mais relevância o conceito das Finanças Regenerativas (ReFi), como pilares de uma economia mais sustentável, descentralizada e resiliente.
As Finanças Regenerativas propõem uma abordagem inovadora, que busca alinhar progresso econômico com regeneração ambiental. Em vez de explorar os recursos naturais, a ideia é criar instrumentos econômicos e financeiros capazes de preservar ou restaurar o meio ambiente. Essa lógica se inspira em pensadores como Humberto Maturana, com o conceito de autopoiese, e John Fullerton, defensor de uma economia que opere dentro dos limites planetários, por meio de novos mecanismos de financiamento.
Uma das principais diferenças entre as bolsas tradicionais está na sua estrutura descentralizada, baseada em tecnologia blockchain e ativos digitais. Enquanto mercados convencionais recorrem a mecanismos como o circuit breaker — que interrompe as negociações em momentos de forte queda —, na Bolsa de Ação Climática os ativos pertencem integralmente aos seus detentores, que podem negociá-los a qualquer momento. Essa autonomia é garantida pela natureza do registro em blockchain, que assegura transparência, rastreabilidade e resistência a interferências externas.
Diferentemente de um sistema financeiro que se apoia, em grande parte, em dívidas, as Finanças Regenerativas propõem um novo paradigma, baseado em ativos reais e garantias tangíveis — como os créditos de carbono. Essa mudança é mais do que necessária: é uma questão de sobrevivência. Ao permitir a negociação de ativos com valor ambiental mensurável, esse modelo fortalece a conexão entre economia e preservação dos ecossistemas.
Outro aspecto fundamental das Finanças Regenerativas é sua abordagem multidisciplinar. Arquitetura, economia, filosofia, finanças e blockchain se entrelaçam para viabilizar soluções inovadoras, capazes de impulsionar a transição para um modelo de desenvolvimento regenerativo. O movimento é global: a agricultura regenerativa já movimenta um mercado estimado em US$ 10 bilhões, e grandes empresas brasileiras têm adotado práticas alinhadas a essa lógica. Pesquisas recentes indicam que, no Brasil, a adoção de práticas ESG é motivada, principalmente, pelo desejo de fortalecer a reputação corporativa e gerar impacto socioambiental positivo.
Diante da instabilidade dos modelos tradicionais, as Finanças Regenerativas representam uma alternativa robusta e conectada às exigências de um novo tempo. Ao unir ativos reais, tecnologia e regeneração ambiental, estamos construindo uma nova lógica econômica — mais consciente, participativa e resiliente. Este é o caminho possível para garantir a continuidade da vida no planeta.
* Economista de formação, Odair Rodrigues é especialista em desenvolvimento de novos negócios de tecnologia.