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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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A desinformação como método

Fernando Biral, presidente da estatal que administra o Porto de Santos, responde líder de associação e defende segurança do terminal de fertilizantes

Por Fernando Biral
18 dez 2021, 14h16

Estamos sempre abertos ao bom debate e ao pleito qualificado, caminho pelo qual alcançaremos os melhores resultados. Para isso, é imperioso que permaneçamos no campo dos argumentos tangíveis, reais e possíveis. Assim, é preciso deixar bem claro: não há termo de comparação entre a tragédia que ocorreu no Porto de Beirute (Líbano) e a movimentação de nitrato de amônio no Porto de Santos. Tentativas reiteradas de igualar o incomparável, ignorando argumentos técnicos e suscitando pânico, só desinformam a população. Com qual intuito e a serviço do que são as perguntas que restam sem respostas aos leitores de Veja e à sociedade em geral. Por ora.

Em artigo intitulado “Porto de Santos: concentração de mercadorias ou tragédia anunciada?”, veiculado em 10/12/2021, o presidente da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias (Ferrofrente) e Associação Guarujá Viva (Aquaviva), José Manoel Ferreira Gonçalves, desfere mais uma vez uma saraivada de informações sem lastro técnico para atacar o futuro terminal de fertilizantes do Porto de Santos que o Ministério da Infraestrutura leiloará em 2022.

O STS 53 será um terminal para movimentação de granéis minerais de descarga localizado na área de Outeirinhos e permitirá ao Porto repatriar uma carga que, apesar de ser de sua área de influência, perde há alguns anos por falta de capacidade. Sem espaço em Santos, o fertilizante é desembarcado nos portos do Sul e depois segue para o mercado-fim, o Centro-Oeste, percorrendo um caminho mais longo por um modal menos eficiente, o que se reflete em maior custo logístico. Ou seja, o STS 53 é essencial para reduzir o custo logístico do agronegócio brasileiro, permitindo a movimentação de uma gama variada de fertilizantes. 

Ao invés de defender a implantação de um terminal moderno, quase totalmente servido pelo modal ferroviário, o presidente da Ferrofrente busca miná-lo com alegações alarmistas. Se estivesse preocupado somente com os riscos dos fertilizantes à base de nitrato de amônio, que não devem representar mais de 5% da carga movimentada, poderia discutir essa questão sem tentar inviabilizar a totalidade de um projeto que é absolutamente essencial não para o Porto de Santos, mas para o País.  

Causa estranheza a solução apontada pelo articulista. Ao criticar o STS 53, diz que “as matérias-primas previstas para serem manipuladas são altamente explosivas”, que “há capacidade ociosa nos terminais de contêineres do porto” e que os navios do STS 53 teriam de “dividir os berços de atracação da região com embarcações de passageiros”. As três afirmações estão erradas, logo veremos. 

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Como sugestão, encampa defesa atribuída à Frenlogi de implantar o STS 53 no lugar do novo terminal para contêineres, o STS 10, matando outro projeto de expansão e modernização do Porto de extrema importância para atender a indústria nacional.

É importante esclarecer que a implantação de qualquer infraestrutura no Porto de Santos é sempre precedida de estudo de viabilidade socioambiental. Tanto o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) quanto a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) são extremamente criteriosos nos processos de licenciamento e fiscalização. Além disso, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e a Autoridade Portuária de Santos vêm incluindo nos editais dos leilões e nas prorrogações de contratos de arrendamentos a incorporação de novas tecnologias com rígidos controles visando, justamente, eliminar eventuais impactos ambientais gerados pela operação portuária.

O armazenamento de fertilizantes à base de nitrato de amônio (caso haja interesse do futuro arrendatário do STS 53 em operar essa carga) só ocorrerá quando e se houver anuência do órgão ambiental, do Corpo de Bombeiros e do Exército Brasileiro. Ocorre que essa avaliação é feita pelos órgãos competentes após o leilão, no momento que antecede a implantação do terminal. 

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Questionamentos e contribuições podem e devem ser encaminhados à Antaq, que conduz a licitação ainda em fase de consulta pública, de forma a aperfeiçoar o processo no melhor interesse da sociedade. Daí que não fica clara a razão do articulista em, ao contrário, disseminar desinformação e de maneira intempestiva, tentando classificar os fertilizantes como produtos de enorme risco.

Senão, vejamos. São sucessivos os ataques para descredibilizar o STS 53. Ao correlacionar diretamente Santos e Beirute – como se ambos fossem os únicos portos do mundo a movimentar nitrato de amônio e, pior, o fizessem nas mesmas condições -, o articulista tenta fazer uma equivalência entre ambas as realidades, induzindo o leitor ao pânico. 

Um episódio em que a carga foi abandonada à própria sorte por mais de 6 anos, junto a materiais inflamáveis, entre outras condicionantes, não nos parece minimamente adequado para ser usado como espelho de um porto com instalações modernas como os terminais de Santos e Guarujá. Seria, antes de tudo, ver os portos brasileiros como um novo continente a ser descoberto, sem inovação, sem tecnologia, sem profissionais, remontando o Brasil portuário do século 21 à chegada das caravelas.

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A realidade lá é completamente diferente da encontrada no Porto de Santos, onde essa carga permanece armazenada por no máximo 15 dias e com rígido controle de umidade e temperatura (contando, inclusive, com câmeras térmicas capazes de medir a temperatura no interior das pilhas de produtos). Tanto que o Ibama atestou a segurança do Porto em duas operações realizadas pós-acidente no Líbano. Tais informações já foram levadas ao conhecimento do articulista, mas, estranhamente, há uma insistência em ignorá-las. 

Fertilizantes à base de nitrato de amônio são, em condições normais, estáveis e por si só não apresentam ameaça. O risco de incêndio depende de outros materiais inflamáveis ou combustíveis. Em Santos o nitrato de amônio já é operado e armazenado de forma correta e seguindo padrões e regras estabelecidos pelos órgãos competentes. 

Pode-se, portanto, assegurar que, cumpridos todos os crivos que culminarem no eventual licenciamento ambiental, o terminal será seguro. 

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Outra afirmação equivocada é de que “os navios teriam que dividir os berços de atracação da região com embarcações de passageiros…”. As embarcações de cruzeiro marítimo não atracam obrigatoriamente em frente ao terminal de passageiros, o qual conta com apenas um berço exclusivo para essa finalidade. O futuro arrendatário do STS 53 terá como uma de suas obrigações contratuais a execução da obra de alinhamento do cais de Outeirinhos, o que proporcionará expansão de capacidade do sistema aquaviário do Porto de Santos para atender as operações de granéis minerais. Desse modo, o projeto prevê a coexistência pacífica com o Terminal de Passageiros. Reiteramos: o STS 53 está em fase de consulta pública e, caso novos argumentos técnicos sejam apresentados, o projeto pode sofrer ajustes – como normalmente acontece nessa etapa da licitação.

A alegação de que há capacidade ociosa nos terminais de contêineres do Porto de Santos, não sendo prioridade a licitação da área STS 10, também carece de respaldo. Pelo menos de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a taxa de ocupação de berços ideal é de 65% para terminais de contêineres, acima disso a operação pode se tornar ineficiente se qualquer evento extraordinário ocorrer, tal qual o fechamento do canal de navegação por intempéries climáticas, entre outros. Só que a taxa de ocupação de berços nos terminais de contêineres de Santos supera 70% na média, tendo ficado em alguns meses do ano acima de 85% na Brasil Terminal Portuário e na DP World.

Hoje a capacidade instalada para operação de contêineres no Porto de Santos é de 5,3 milhões de TEU (contêiner de 20 pés). Em 2021, mesmo num cenário de pandemia, a movimentação aponta crescimento de 14%, chegando a 4,8 milhões de TEU. Mantido esse ritmo em 2022, o Porto encerraria o próximo exercício com 5,4 milhões de TEU – acima da capacidade existente. 

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Assim, é premente expandir a oferta para contêineres em Santos, afinal, capacidade tem de vir antes da demanda, e é vital atender ao agronegócio brasileiro com a implantação do STS 53. Quem diz o contrário ou não entende de planejamento portuário, ou é contra a concorrência. Ou os dois.

* Fernando Biral, diretor-presidente da Santos Port Authority (SPA), estatal que administra o Porto de Santos

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