Considerando que não há nenhum fato novo a justificar a soltura de Filipe Martins – ex-assessor especial da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro –, pode-se aventar as causas que o mantiveram preso preventivamente por um semestre exato. Uma das mais prováveis, dado o histórico recente do país, é que se esperava nada menos do que uma colaboração premiada.
No mundo ideal, a delação de Filipe Martins complementaria a do tenente-coronel Mauro Cid – afinal, enquanto um teria escrito a minuta do golpe, o outro cuidou de imprimir as folhas.
Mauro Cid foi detido pela Polícia Federal no dia 3 de maio de 2023 e teve a colaboração homologada em 9 de setembro – quatro meses depois. Comparativamente, Filipe Martins dispôs de tempo de sobra para seguir o mesmo caminho; mas, sabe-se lá por qual razão, não o fez.
Diante da postura inquebrantável do bolsonarista, não havia alternativa senão a concessão da liberdade, já que a própria Procuradoria-geral da República (PGR) a solicitara em março, repetindo o gesto em agosto. Esta coluna já abordou em outro texto que a delação premiada está no centro de uma “dança das cadeiras” que une esquerda e direita no Brasil -cada um apoia a delação quando lhe é conveniente e se coloca contra a ferramenta quando pode lhe prejudicar.
Filipe Martins foi preso em Curitiba. Viveu seus primeiros dias atrás das grades na Superintendência da Polícia Federal na cidade, onde ilustres delatores da lava jato coabitaram – e por muito mais tempo.
O ministro Alexandre de Moraes, certamente cioso de não repetir erros alheios do passado, mandou soltar Filipe Martins em boa hora. Cumpre, agora, encerrar os inquéritos e dar andamento aos processos para que, caso se prove a culpa, ele seja sentenciado e punido, dentro do devido processo legal, como é a praxe no Estado Democrático de Direito.