Mais popular que o presidente Jair Bolsonaro no início da pandemia, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta foi lançado pré-candidato à Presidência pelo DEM em 2021 e participou do início das tratativas pela construção de uma terceira via na corrida ao Palácio do Planalto. No entanto, como mostra reportagem de VEJA desta semana, suas pretensões presidenciais murcharam e ele deve disputar uma cadeira no Congresso pelo Mato Grosso do Sul em outubro.
O ex-ministro da Saúde diz a interlocutores que a possibilidade de concorrer ao Palácio do Planalto foi perdendo cor à medida que ele não via em outros candidatos moderados, como João Doria (PSDB) e Ciro Gomes (PDT), qualquer disposição de abrirem mão das próprias postulações em nome da unidade. Mandetta desanimou diante do que vê como fortalecimento da polarização entre Bolsonaro e Lula pelas candidaturas de centro e se afastou dos debates do plano nacional. Ele não vê viabilidade eleitoral para a terceira via com tantos nomes na praça – além do tucano e do pedetista, são pré-candidatos Simone Tebet (MDB) e Sergio Moro (Podemos) e, possivelmente, o governador gaúcho, Eduardo Leite, que estuda trocar o PSDB pelo PSD para entrar na corrida.
Apesar dos diversos nomes colocados na terceira via, caciques de União Brasil, PSDB e MDB afirmam que devem lançar candidatura unificada até junho. Por outro lado, o ex-ministro avalia como natural o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas, que atribui ao Auxílio Brasil, programa sucessor do Bolsa Família, e a uma postura menos estridente do presidente, que favorece a volta de eleitores desgarrados.
A fusão entre PSL e DEM, concretizada no fim do ano passado, também impactou as pretensões presidenciais de Mandetta. O presidente do União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), pegou o vácuo do ex-ministro e tem articulado como possível presidenciável da sigla. “Houve um processo de depuração natural com a fusão, cada um foi se readaptando no jogo nacional”, diz o deputado federal Júnior Bozzella, próximo de Bivar. Para alguns dos aliados de Mandetta, ele deveria ter sido mais assertivo como pré-candidato. “Faltou assumir a própria pré-candidatura e protagonizá-la”, resume um cacique do antigo DEM.
Céticos sobre as intenções do líder do União Brasil, políticos do antigo DEM próximos do ex-ministro atribuem a posição de Bivar a “personalismo” típico de cacique de partido nanico, como foi o PSL até 2018, e veem em seus movimentos a busca por se valorizar a uma composição, talvez como candidato a vice. Para Mandetta, o União Brasil ainda precisa se afinar politicamente. Uma das evidências disso se deu em novembro, quando ele e Bivar bateram cabeça. O deputado disse que o ex-ministro havia desistido da corrida ao Planalto, no que foi desmentido. “Médico não abandona paciente”, escreveu Mandetta no Twitter, onde pouco tem aparecido ultimamente.
Fora do plano nacional, as alternativas a Mandetta são disputar o Senado ou a Câmara pelo Mato Grosso do Sul – ele não pretende se candidatar por outro estado, como cogitaram aliados. O ex-ministro, entretanto, preferiria não voltar a ser deputado. Ele alega que abriu mão de um novo mandato em 2018, quando teria uma reeleição tranquila, e busca se distanciar da imagem de político de carreira.
Para a disputa ao Senado em seu estado, o cenário se desenha duro. O União Brasil lançou a deputada Rose Modesto ao governo, movimento que abriria a vaga ao Senado em sua chapa ao ex-ministro. Lideranças locais citam Mandetta bem colocado em pesquisas, mas, em busca de alianças que engrossem a coligação, não garantem que será ele o candidato. “Estamos trabalhando na formação de alianças ao projeto majoritário e temos certeza de que poderemos contar com o apoio de Mandetta nas estratégias para fortalecer o partido”, desconversa a presidente do União Brasil no estado, senadora Soraya Thronicke.
Caso confirme a candidatura, com apenas uma cadeira em jogo, Mandetta teria como adversária a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que trocou o União Brasil pelo PP. Tereza terá como trunfos a excelente relação com o agronegócio, pilar da economia sul-mato-grossense, o bolsonarismo latente no eleitorado local e o apoio da máquina estadual. O PSD, cujo candidato a governador deve ser o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad, primo de Mandetta, também terá candidato ao Senado, possivelmente o juiz federal aposentado Odilon de Oliveira.