Como Bolsonaro transformou o 7 de Setembro em palco de seu teatro político
Desde 2021, quando era presidente, ele usa a data patriótica para apontar supostos inimigos políticos e promover conspirações que mobilizam seus apoiadores
O ex-presidente Jair Bolsonaro realiza neste sábado, 7, um grande ato na Avenida Paulista em defesa do que tem classificado como “liberdade de expressão” e pela anistia de presos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. As críticas devem recair, principalmente, sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, responsável pelos inquérito que apuram o quebra-quebra golpista em Brasília no início do ano passado e que nos últimos dias endureceu o cerco ao X, com a suspensão da rede social do multimilionário Elon Musk no Brasil.
Essa, no entanto, não é a primeira vez que Bolsonaro faz uso da data patriótica — antes marcada apenas pelas comemorações convencionais da Independência do país — para chamar multidões às ruas e criticar o que considera inimigos políticos e apontar os fantasmas conspiratórios da vez O movimento bolsonarista tornou-se praticamente uma tradição durante o seu governo.
Em 2021, o então presidente elevou o discurso contra Moraes e contra a Corte — num tom até então inédito — e, em manifestações em São Paulo e em Brasília, xingou o magistrado de “canalha”, pediu a sua saída e afirmou que não respeitaria “nenhuma decisão” vinda do ministro. À época, Moraes era responsável por inquéritos que apuravam o financiamento e a organização de atos antidemocráticos no próprio 7 de Setembro e pela investigação que mirava fake news contra integrantes do Supremo — e que chegou a um bom número de apoiadores de Bolsonaro.
“A paciência do nosso povo já se esgotou. Ele [Moraes] tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais! Liberdade para os presos políticos! Fim da censura! Fim da perseguição àqueles conservadores, àqueles que pensam no Brasil”, bradou Bolsonaro a uma multidão que empunhava cartazes de “Fora Xandão”.
Já em 2022, na reta final de seu mandato e a pouco menos de um mês do primeiro turno das eleições daquele ano, Bolsonaro abriu fogo contra as instituições, em especial a Justiça Eleitoral e o STF, ao apontá-los como inimigos em discursos inflamados para milhares de apoiadores em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo (na capital paulista, participou de forma virtual, em um telão).
Daquela vez, centrou fogo, sobretudo, na falta de “confiabilidade” das urnas eletrônicas — outra teoria conspiratória que o bolsonarismo agita de tempos em tempos. O episódio, inclusive, gerou uma de suas condenações à inelegibilidade: por ter usado as solenidades oficiais do governo para fazer campanha.
Em 2023, na mesma data, já fora do poder e escaldado pela arruaça do 8 de Janeiro, mandou o seu “exército” ficar em casa. O fim da trégua acabou na última semana, embalado pelo pretexto de reagir às decisões do ministro Alexandre de Moraes, sobretudo ao bloqueio do X de Elon Musk. Assim, o clima de beligerância voltou a tomar conta do Dia da Pátria. A ver como se portarão os patriotas.
Ato na Paulista
Para este ano, o presidente gravou um vídeo no final de agosto convocando os seus apoiadores a irem ao ato da Avenida Paulista, com dois temas principais: pedir anistia aos seus apoiadores presos por conta do 8 de Janeiro e defender a “verdadeira” independência do Brasil. “De nada vale comemorar a independência se não temos liberdade. Queremos dar um recado para o Brasil e mundo do que estamos sofrendo aqui. Queremos anistia dos nossos presos políticos”, disse.
Na última quarta-feira, em entrevista a um portal de direita, pediu aos seus simpatizantes que não levassem bandeiras ao ato, mas voltou a atacar as últimas decisões da Corte, mostrando qual é de fato a sua bandeira. “O mundo inteiro está de olho para o Brasil, com a questão do X. Vamos mostrar que não concordamos com essas medidas de censura. Não tem cabimento isso que está acontecendo”, afirmou.