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Maílson da Nóbrega

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Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
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O BC e as decisões técnicas

Há incentivos para que a futura diretoria não se curve à política

Por Maílson da Nóbrega 8 jun 2024, 08h00

Em famoso livro-texto americano, The Armchair Economist (O Economista Ocasional, em tradução livre), Steven Landsburg diz que a teoria econômica se resume a quatro palavras: “Pessoas reagem a incentivos. O resto é detalhe”. Pela teoria dos incentivos, instituições bem formuladas promovem o desenvolvimento econômico.

Lembrei-me dessa teoria diante da reação do mercado financeiro à decisão do Copom — Comitê de Política Monetária do Banco Central — no último dia 8 de maio. Com um placar de 5 a 4, o ritmo de redução da taxa Selic caiu de 0,5 para 0,25 ponto percentual. Os quatro votos contra a mudança vieram dos indicados pelo atual governo. Um deles, Gabriel Galípolo, é tido como o próximo presidente do BC.

Suspeita-se que esses quatro podem ter votado por razões políticas. Como Lula ainda pode indicar três diretores, teme-se que a futura maioria se curve à vontade do governo, como na gestão Dilma, com desastrosas consequências para a credibilidade do Banco Central e o controle da inflação.

Há quatro incentivos que podem contrariar essa visão. Primeiro, Galípolo participou de várias reuniões do Copom, as quais podem ter-lhe proporcionado um mergulho nas análises dos qualificados economistas do BC e o aprendizado com as opiniões de outros diretores. Teria hoje maior conhecimento sobre o papel da política monetária nas expectativas.

“O Copom pode se tornar mais tolerante a riscos inflacionários, mas não aceitar dar um cavalo de pau”

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Em segundo lugar, ele provavelmente conhece os efeitos da fatídica decisão que baixou a Selic em 2011, quando se esperava a elevação. A inflação subiu e contribuiu para a recessão de 2015 e 2016. A popularidade de Dilma Rousseff caiu, um dos motivos de seu impeachment.

Em terceiro, Galípolo sabe que o comando do BC valoriza quem o exerce, aqui e lá fora. Ex-presidentes do banco costumam galgar posições de destaque em instituições financeiras e universidades de prestígio em vários países. Erros causados por visões políticas corroem a imagem e o futuro profissional de quem os comete.

O quarto incentivo vem da independência do BC, que habilita o presidente da instituição a resistir a pressões de governos da hora. Se resistir a demandas políticas para baixar a Selic, não corre o risco de ser substituído por alguém que se submeta ao chefe do Executivo. A experiência mostra que ceder a tais pressões costuma dar errado.

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Um estudo recente indica que presidentes de bancos centrais podem reunir apoio de metade do comitê de política monetária para conseguir decisões de seu agrado. Ou seja, o simples exercício do cargo não é suficiente para moldar o posicionamento da maioria dos diretores. É preciso que essa maioria resolva assumir o risco de manchar sua reputação profissional para satisfazer a vontade do chefe da instituição. A meu ver, uma boa parte da diretoria, de alta credibilidade, dificilmente entraria nesse jogo.

O futuro Copom pode ser mais tolerante a riscos inflacionários. Isso acontece aqui e acolá nos bancos centrais, inclusive nos países riscos. O que, todavia, pode não acarretar um cavalo de pau na política monetária.

Publicado em VEJA de 7 de junho de 2024, edição nº 2896

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