ASSINE VEJA NEGÓCIOS
Imagem Blog

Maílson da Nóbrega

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história

A lógica da irresponsabilidade do Congresso

Os parlamentares não têm incentivos à ação responsável, pois os partidos não dispõem do poder de obrigá-los a votar de acordo com sua orientação

Por Maílson da Nóbrega 13 jul 2018, 00h46

Decisões recentes do Congresso ampliaram de forma irresponsável os gastos públicos e o ambiente regulatório. É a chamada “pauta bomba”, que impactará negativamente o Orçamento e políticas públicas nos anos vindouros. Apesar da crítica da imprensa e dos especialistas, os deputados e senadores seguem a caminhada insensata. Por que será?

Esse comportamento pode ser explicado pela teoria segundo a qual os seres humanos reagem a incentivos. Daí a necessidade de mecanismos institucionais que os alinhem na direção desejada. Isso não existe no caso do Congresso.

Não há instituições que induzam os parlamentares à responsabilidade. Isso porque a sociedade não associa suas decisões aos respectivos efeitos negativos: inflação, redução de atividade econômica, desemprego, queda de produtividade e outros. Se algo der errado, como costuma ser o caso, a culpa é atribuída ao presidente da República.

Tal situação deriva da má qualidade do sistema político. Não há partidos com princípios e programas para orientar a ação de seus parlamentares. Inexiste, pois, mecanismos de coordenação para suplantar os incentivos a irresponsabilidade.

Em países onde o sistema político coordena as atividades de seus membros, os líderes podem orientar a forma como votam. Se fecharem questão em torno de um projeto, o parlamentar desobediente pode perder o direito de candidatar-se à reeleição. Ele pode tentar outro partido, mas sua imagem de rebelde pode barrá-lo. Será o ostracismo político.

Continua após a publicidade

No Brasil, não há como obrigar e parlamentar a votar de acordo com a orientação do partido. Mesmo que a agremiação tenha cláusula de fidelidade, ela não é aplicada. Na verdade, ocorre o oposto, isto é, um prêmio em favor do deputado ou senador que vota de acordo com pressões dos grupos de interesse, nos quais costuma conquistar votos.

O incentivo à irresponsabilidade pode ser neutralizado quando o presidente da República possui alta legitimidade, capacidade de articulação política e habilidade para usar os recursos políticos à sua disposição. Nesse caso, seus líderes no Congresso, bem
escolhidos, conseguem coordenar votações na linha esperada pelo governo, reduzindo substancialmente a taxa de rebeldia.

O que temos visto por estes dias é a repetição do ambiente do último ano do presidente Sarney. Tal como Sarney naquela época, Temer é um líder de baixa popularidade, baixa legitimidade e baixo poder de agenda. Um “pato manco”, na terminologia americana.

Continua após a publicidade

Não surpreende que, do mesmo modo que em 1989, o Congresso se tenha tornado o paraíso das corporações e território da irresponsabilidade. Pelo menos vamos entrar no recesso parlamentar e no período eleitoral. Restarão dois meses para novas irresponsabilidades.

Somente com a renovação da legitimidade política derivada de um presidente reformista eleito em outubro, será possível neutralizar a insensatez fiscal e regulatória do Congresso. Ou com uma reforma política que crie incentivos à ação responsável dos parlamentares.

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas R$ 5,99/mês*
ECONOMIZE ATÉ 59% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Nesta semana do Consumidor, aproveite a promoção que preparamos pra você.
Receba a revista em casa a partir de 10,99.
a partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.