“Se quiséssemos falar de teoria e leituras econômicas, [a da Colômbia] é uma economia que não tem empregos. Eles extraem óleo, e não trabalharam porque a natureza colocou lá embaixo, ou se você preferir, Deus colocou. Eles extraem carvão ou, em algumas regiões, ouro. Eles o colocam num trem, eles o colocam em um duto, eles exportam e recebem um esguicho de dólares (…) Nossos três principais produtos de exportação não produzem economia trabalhista. São três venenos. O mais poderoso é o carvão. Depois o óleo, e depois a cocaína. Carvão, petróleo e cocaína — todos os três produzem violência, não apenas cocaína. Para extrair petróleo, matam comunidades. Para extrair carvão, deixam morrer milhares de crianças sem água. E para ‘extrair’ cocaína, é ‘chumbo’ limpo. Esses três produtos são a maneira pela qual a Colômbia se articula ao mundo e são para o benefício econômico de um regime político de corrupção. Quantos empregos são gerados principalmente em produtos legais como carvão, venenoso, e petróleo, venenoso? Porque a ciência descobriu que, quando usados pela grande fábrica do mundo tecnológico, acabam se transformando em gases chamados de efeito estufa que aquecem o planeta terra. Nossa existência está nos matando, e por isso é veneno. A ciência já disse que ou paramos o consumo de carvão e petróleo, ou a espécie humana, em um século, entra em extinção civilizacional. A humanidade acabou. É isso que exportamos, aquilo que a ciência diz que não pode mais ser consumido. É precisamente disso que o Estado e a sociedade colombiana vivem hoje: carvão, petróleo e cocaína. Porque não precisa de trabalho, porque representa a renda de 65 bilhões de dólares por ano. Isso não foi trabalhado, foi simplesmente extraído do subsolo ou da proibição das drogas. Esse dinheiro é usado para financiar a importação de produtos como milho, mandioca, inhame, arroz e leite importado. É para isso que se importam camisas e calças, porque são usadas para lavar dólares de cocaína.”
(Gustavo Petro, economista, ex-integrante da extinta guerrilha colombiana M-19, prefeito de Bogotá destituído em 2013, senador e candidato à presidência da Colômbia por uma coalizão de grupos ambientalistas, socialistas e comunistas. Ele lidera as pesquisas para a eleição do próximo domingo, com 48% das intenções de voto, o equivalente à soma dos três principais adversários.)