Aos investidores que tenta atrair e aos técnicos para os quais acena com glórias futuras, Richard Williams (Will Smith) nunca deixa de afirmar que os planos para as filhas Venus (Saniyya Sidney) e Serena (Demi Singleton) estão traçados desde a concepção, e por isso ele as preparou de modo incansável e implacável. Soa como exagero, mas consta que Williams decidiu ampliar a prole ao ver uma tenista receber um cheque de 40 000 dólares em um torneio e imaginar que aí estava o caminho da família. De fato, estava. Venus foi a número 1 do mundo em simples e em duplas, e Serena, que soma 23 Grand Slams, é tida como a maior atleta da história do esporte. É no pai dessas potências, porém, que está o foco de King Richard: Criando Campeãs (King Richard, Estados Unidos, 2021), em cartaz nos cinemas.
Will
Serena Williams: My Beautiful Career
Em uma das suas melhores interpretações dos últimos anos, Will Smith captura em Williams a certeza inabalável no talento das filhas, a energia meio maníaca, o gosto por slogans positivos e as estratégias para inserir duas meninas negras em um esporte branquíssimo. Williams era mestre em fazer com que técnicos célebres baixassem a guarda para então se descobrirem diante de um homem ardiloso, ambicioso e tão determinado que, ao contrário do que mostra o filme, não era por falta de opção que a família morava no gueto de Compton, em Los Angeles, mas porque ele achava que o ambiente barra-pesada fortaleceria as meninas. E, se a exigência com o desempenho escolar e o treino nas quadras arruinadas do bairro parece extremada, avise-se que o filme o suaviza; Williams só não foi processado pelos serviços sociais porque suas filhas e a mulher, Oracene (a ótima Aunjanue Ellis), sempre disseram estar de pleno acordo com seus métodos. King Richard não resolve o mistério de onde ele teria tirado sua visão. Por isso mesmo, claro, ela é tão fascinante — além de irreplicável.
Publicado em VEJA de 8 de dezembro de 2021, edição nº 2767
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