Como surgiu seu interesse por esse tema, a manipulação do tempo? Antes do advento da câmera de cinema, nunca a manipulação do tempo, ou da percepção que temos dele, havia sido possível. Mesmo no sentido mais básico dela — reduzir ou acelerar uma ação, ou fazê-la andar para trás —, essa é uma possibilidade inaugurada pelo cinema, e que a montagem pode multiplicar de mil maneiras. O tempo é o tecido de que o cinema é feito. Há poucas coisas mais interessantes que explorar essa ferramenta e refletir sobre como o tempo molda nossa percepção da realidade.
De onde veio a ideia central de Tenet, de reverter o fluxo do tempo? Escrevendo o roteiro, eu estava concentrado nos desafios lógicos e intelectuais da história. Só durante a realização ela começou a tomar a forma que deveria ter, de algo que se entende mais sentindo do que analisando. Foi superexcitante me dar conta disso, de que esse era um filme que não podia existir como palavra, só como imagem.
Por que você usa o mínimo de efeitos especiais e se impõe desafios logísticos tremendos para filmar ação real? Filmar em grande escala é um enorme esforço coletivo. Há uma satisfação única em impor desafios práticos imensos e resolvê-los em equipe. Em todos esses anos, venho constatando como isso é inspirador para todos os envolvidos e como são substantivos os frutos de lidar assim com o mundo material no cinema, em vez de simplesmente planejar ação para cenários falsos e efeitos digitais. A ação real obriga a imaginar outras soluções, e portanto a criar e a inovar. Sem as incertezas da realidade não há oportunidade nem descoberta.
Você defendeu ferreamente o lançamento de Tenet nos cinemas ainda neste ano. Valeu a pena? Sem dúvida. Mesmo com todas as dificuldades da pandemia, o filme está encontrando seu público — e isso é tudo que um cineasta deseja.
Publicado em VEJA de 4 de novembro de 2020, edição nº 2711