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Claudio Moura Castro

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Nem tudo é desgraça

As grandes crises quebram resistências e tabus

Por Claudio Moura Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h55 - Publicado em 17 abr 2020, 06h00
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  • No turbilhão das redes sociais, citou-se Einstein: “A crise é a maior bênção que pode acontecer com as pessoas e países…”. De fato, pesquisas mostram que as crises quebram resistências. O impossível torna-se possível. Na correria para evitar o caos, quebram-se barreiras e tabus. Ao fim da crise, muito voltará ao que era. Restaurantes voltarão a abrir e muitos trabalharão nos escritórios. Mas nem tudo!

    – Telecompras. A senha? O cartão foi recusado? Vencidas essas batalhas, serão entregues as compras? Acabaremos nos acostumando. Mas, quando terminar isso tudo, em vez de carregar as compras pela rua afora, por que não continuar recebendo em casa? Mas, vá lá, gostamos de apalpar o queijinho e tamborilar no melão.

    – Home office. Sempre houve gente trabalhando em casa. Agora não é mais o desfastio de alguns. Aos trancos e barrancos, 60% da força de trabalho já opera de pijama e economiza o tempo para chegar ao escritório. Em muitos casos, nem pensar em voltar ao velho sistema. E as empresas, felizes com menos gente nos escritórios — e menos custos.

    – Telemedicina. Faz poucos meses, as associações médicas confirmaram a proibição do atendimento a distância. Hoje, qual médico não quer cuidar do seu paciente bem de longe? E assim acontece, aumentando a produtividade do sistema, reduzindo a contaminação e abrindo portas para outras revoluções. A evidência suíça sugere 80% de resolução. Haverá força política para a burrice de voltar atrás? Contudo, será temporária a flexibilização dos protocolos de autorização de novos medicamentos. Há boas razões para voltarem a ser rigorosos e demorados.

    – Educação a distância. O ensino por correspondência apareceu, na Inglaterra, em meados do século XIX. Discretamente, vai crescendo. No início do século XX, foi criado o primeiro curso superior a distância, conhecido pela sigla EAD. Porém, emblemática da suspeição, falhou a tentativa de operar a Open University de Oxford e Cambridge. Ao longo dos anos, sobrevivem ceticismo e rejeição. Mas, para quem acredita na ciência, pesquisas recentes mostraram que, em cursos comparáveis, os resultados são equivalentes. No Brasil, o Enade permite verificar que, bons ou ruins, as diferenças são pequenas entre presencial e EAD. As faculdades mais ágeis estão a pleno vapor, cada uma com sua solução. Os aplicativos de comunicação ganham clientes, aos milhões. Contudo, algumas universidades públicas estão paralisadas. É crível a desculpa de haver alunos que não têm computador? E se emprestassem os que estão parados nos laboratórios?

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    “Muitas soluções de trabalho e ensino, antes heréticas, se revelarão melhores que as velhas”

    No ensino básico, o desafio é assustador e a pressa, muita. Secretários estaduais estão ativamente preparando-se para a via digital. Alguns já começaram. Abre-se um gigantesco leque de usos para novas tecnologias. Oxalá não percamos essa janela de possibilidades de sair do artesanato.

    É inverossímil imaginar que tudo voltará ao que era antes. Muitas soluções, antes heréticas, se revelarão melhores que as velhas. Algo de bom trará a crise. Nem tudo é desgraceira. A hora é de brigar para a legislação não dar marcha a ré.

    Publicado em VEJA de 22 de abril de 2020, edição nº 2683

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