COP 30: o Brasil entre a retórica e a liderança
Evento será um teste de maturidade para o país: alinhar política climática e realidade produtiva é a condição para transformar discurso em liderança global
O Brasil chega à COP 30 com uma rara oportunidade: reconciliar discurso e realidade. De um lado, o governo tenta se afirmar como liderança ambiental com o lançamento do Plano Clima, que promete orientar as ações de adaptação e mitigação das emissões até 2035. De outro, parte do agronegócio ainda reage à agenda climática como se ela fosse uma ameaça. Ambos permanecem presos a um debate ultrapassado. O país que mais preserva e mais produz alimentos no mundo precisa deixar de discutir culpa e começar a construir soluções.
O Plano Clima é, em teoria, o instrumento que poderia alinhar sustentabilidade e crescimento. Mas, na prática, padece de um vício histórico: foi concebido de cima para baixo, com pouca escuta do setor produtivo e foco excessivo em metas punitivas, quando deveria reconhecer resultados já alcançados e estimular avanços com base em ciência, métricas e incentivos econômicos. Um plano climático eficiente precisa falar a linguagem da produtividade, da inovação e do investimento, não a da burocracia e da desconfiança.
A agricultura tropical brasileira é uma das experiências mais sofisticadas do planeta. Em meio século, a produção cresceu mais de quatro vezes com pouco mais de 60% de aumento de área cultivada. Dois terços do território permanecem preservados. Tecnologias como integração entre agricultura e pecuária, plantio direto, bioinsumos e recuperação de pastagens se consolidaram em escala continental. O país é também potência energética, com liderança em etanol, biogás, biometano e eletricidade de biomassa. O resultado é um modelo que combina produtividade e conservação, algo raro no mundo.
Mesmo assim, o debate público segue dominado por antagonismos. Falta reconhecer que sustentabilidade não é custo, mas vantagem competitiva. O produtor que conserva e captura carbono presta um serviço ambiental de valor mensurável. O Estado precisa abandonar a linguagem do controle e adotar a da parceria. É hora de criar métricas claras, sistemas de certificação e instrumentos financeiros que traduzam conservação em prosperidade. Uma política climática madura não pode se basear em ideologia, e sim em ciência, crédito e inovação.
O setor produtivo também precisa atualizar seu discurso. Negar a agenda ambiental é negar o próprio futuro. O mercado global já precifica responsabilidade climática. Sustentabilidade é a nova barreira comercial e o novo motor de crescimento. O produtor que se antecipa a essa realidade amplia margens, acesso a financiamento e presença em mercados exigentes. A transição climática é, portanto, menos uma obrigação e mais uma oportunidade.
O Brasil reúne três ativos que raramente coexistem: base produtiva sólida, matriz energética limpa e biodiversidade abundante. Nenhum outro país tem tanto potencial para transformar economia e meio ambiente em um único projeto nacional. Mas para isso será preciso um pacto novo entre produtores, governos, investidores e sociedade civil, que reconheça o agro como parceiro estratégico e o Estado como indutor de eficiência.
A COP 30 é o palco ideal para essa virada de página. O mundo não espera mais promessas, espera liderança. O Brasil pode mostrá-la não com retórica, mas com resultados: ciência tropical, inovação, produtividade e conservação convivendo no mesmo território. O futuro climático e alimentar do planeta passa pelo campo brasileiro. Cabe a nós decidir se queremos continuar presos ao passado ou assumir, com serenidade e convicção, o papel de liderança que o mundo já nos reconhece.
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