Mais vivência, menos ostentação: turismo de luxo valoriza a experiência
Pesca de bacalhau na Noruega e caça às trufas na Itália são algumas opções para quem busca viagens com experiências únicas

O fotógrafo Johnny Mazzilli não poderia imaginar que o arquipélago das ilhas Lofoten, na Noruega, uma paisagem descrita pelo escritor francês Júlio Verne (1828-1905) no clássico Vinte Mil Léguas Submarinas (que ele leu aos 10 anos), se tornaria seu destino recorrente por 23 anos. Apaixonado pelos cenários escandinavos, Mazzilli se transformou em guia e defende a ideia de que a região tem muito mais a oferecer do que a aurora boreal, que costuma monopolizar o imaginário dos turistas. “Bato na tecla de que essa viagem tem uma riqueza folclórica, gastronômica e cultural impressionante”, diz. Ele criou um roteiro com a agência Latitudes com safári de águias marinhas, passeio em barco de pesca de bacalhau com jantar harmonizado e hospedagem na rorbu, uma palafita acolhedora à beira-mar onde os pescadores guardavam apetrechos de trabalho.
O público interessado no estilo bare witness (algo como testemunhar a olho nu), ou seja, uma forma de viajar que valoriza experiências autênticas, costuma ter mais de 50 anos e paga cerca de 38 000 reais pela programação de doze dias, sem incluir os bilhetes aéreos para Oslo, que custam por volta de 30 000 reais (na business class).
Para novembro, Mazzilli organiza uma nova “expedição”. Essa abordagem conectada à natureza também ocorre na Cratera de Ngorongoro, na Tanzânia, formada há milhões de anos após o colapso de um vulcão. Com cerca de 20 quilômetros de diâmetro, abriga leões, elefantes, gnus, zebras, guepardos e rinocerontes. O hóspede fica em um acampamento de luxo, onde o ponto alto é um piquenique com serviço de mordomo. A programação inclui safári e visita à comunidade Maasai. Não há voos diretos do Brasil para a Tanzânia, conexões são feitas em Istambul, Doha ou Amsterdã. Já no continente africano, o trajeto terrestre dura três horas e meia por terra. Segundo a empresa Teresa Perez Tours, o pacote de sete noites custa cerca de 360 000 reais por casal, mais 94 000 pelas passagens de avião em classe executiva.
Para quem também busca aventura (mas na água), Curaçao chama atenção pela peculiaridade de sua origem. Ilha de colonização holandesa no sul do Caribe, está sendo aos poucos descoberta pelos brasileiros. Para estadia de uma semana com voo direto na classe econômica, hospedagem e passeios (é preciso tomar a vacina contra a febre amarela), o valor pode chegar a 10 000 reais por pessoa, segundo o Curaçao Tourist Board, órgão oficial de turismo do país. No fundo do mar azul-turquesa da região, há barcos naufragados, como o Superior Producer, cargueiro afundado em 1977, e o Tugboat, rebocador submerso em águas rasas, acessível para iniciantes no mergulho. Além do apelo aquático, que sai por cerca de 830 reais, o conceito de earned experience (experiência conquistada) tem ganhado espaço na ilha caribenha: o visitante não tem oportunidade só de tirar fotos bonitas, mas pode trazer de volta na bagagem um aprendizado com propósito. Um exemplo é a visita à Fazenda Curaloe, onde se cultiva a planta Aloe vera de forma sustentável. Ali, o turista pode participar de um workshop e aprender a fazer um spray corporal com o insumo.

Uma dica para os apreciadores de uma gastronomia candidata a se tornar patrimônio imaterial do mundo pela Unesco é desembarcar nas cidades italianas de Milão ou Bergamo e reservar uma caça às trufas de verão em La Morra, no Piemonte. Marco Varaldo, da Truffle Tours, conduz um passeio com cães farejadores correndo por trilhas entre vinhedos e bosques. Em seguida, há uma visita a uma vinícola com degustação e, depois, almoço com o fruto da aventura em menu especial. O giro custa cerca de 840 reais por pessoa, sem incluir vinho, ajuda de intérprete ou o produto servido no restaurante. A atividade dura perto de seis horas.
E, para praticar a tendência da “viagem do silêncio”, em busca de uma vida com mais significado, a Europamundo e outras agências oferecem uma incursão a Juknokwon, uma floresta de bambu na cidade de Damyang, no interior da Coreia do Sul. Passeios com nomes sugestivos como Caminho da sorte, Estrada do amor inabalável e Trilha do estudioso convidam à reflexão. Para finalizar a atividade, turistas comem arroz em um talo da planta, uma tradição simples, que faz parte de um roteiro terrestre exclusivo de sete dias no país, em várias regiões, ao preço de 118 000 reais para duas pessoas (sem bilhete aéreo). Do frio do Ártico ao calor do Caribe, da contemplação ao movimento, viajar é também descobrir novos modos de estar no mundo.
Publicado em VEJA, junho de 2025, edição VEJA Negócios nº 15