Que a existência dos dinossauros foi um sucesso não se discute: eles dominaram a Terra por 165 milhões de anos – uma eternidade se compararmos aos humanos, que têm pouco mais de 200 mil. O caminho para esse êxito, no entanto, é um mistério e, para tentar desvendá-lo, pesquisadores europeus decidiram analisar uma grande quantidade de fezes fossilizadas.
As análises revelaram que, primeiro, os ancestrais dos dinossauros substituíram os tetrápodes que aqui viviam. Esses animais tiveram sucesso por serem onívoros, mas logo evoluíram para linhagens carnívoras ou herbívoras de dinos. Os que se alimentavam de plantas foram beneficiados por uma mudança climática que levou à uma grande diversificação das árvores, o que garantiu muito alimento para a base da pirâmide e, consequentemente, levou ao desenvolvimento de grandes espécies. Isso, por sua vez, garantiu alimento para os animais carnívoros.
Para os pesquisadores, a chave para o sucesso foi a capacidade dos dinossauros de se alimentar de uma grande diversidade de plantas, o que pode ser chave para a nossa própria sobrevivência no futuro. “Infelizmente, mudanças climáticas, extinções em massa e reviravoltas faunísticas não são apenas coisas do passado”, diz Martin Qvarnström, autor do estudo publicado na Nature, em comunicado. “Ao estudar as respostas do ecossistema do passado, obtemos insights essenciais sobre como a vida se adapta e prospera durante as mudanças nas condições ambientais.”
Como o estudo foi realizado?
Os chamados coprólitos foram coletados na região que, então, foi o norte da Pangeia, por pesquisadores suecos em parceria com cientistas da Noruega, da Polônia e da Hungria. Essa coleta foi feita ao longo de 25 anos e resultou em mais de 500 amostras.
Eles tinham como objetivo desvendar os segredos dos primeiros 30 milhões de anos dos dinossauros, quando eles passaram de meros coabitantes para dominadores do ecossistema. Para isso, a análise detalhada das fezes foi somada a uma grande quantidade de dados obtidos de fosseis anteriores como marcas de mordidas, regurgitações, pegadas e ossos.
Nas análises das fezes foi possível identificar uma diversidade de alimentos: insetos, peixes quase completos, ossos, pedaços de animais maiores e plantas. “Estudar restos de comida não digeridos e juntar as peças de “quem comeu quem” no passado é um verdadeiro trabalho de detetive”, explica Qvarnström.
Apesar da dificuldade, essa identificação possibilitou que os cientistas entendessem a alimentação desses animais em cada período dessa primeira fase da evolução. Os resultados foram bem recebidos pela comunidade científica, que agora tem resposta para um questionamento de décadas. “A capacidade de examinar o que os animais estavam comendo e como eles interagiam com seu ambiente fornece insights inestimáveis sobre o que permitiu que os dinossauros alcançassem a supremacia”, completou Qvarnström.