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Alexandre Schwartsman

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Economista, ex-diretor do Banco Central
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Conversa para boi dormir

A promessa de corte de gastos de 26 bilhões de reais não se sustenta

Por Alexandre Schwartsman Atualizado em 12 jul 2024, 12h21 - Publicado em 12 jul 2024, 06h00

As receitas do governo federal cresceram nada menos do que 9% acima da inflação nos primeiros cinco meses do ano, variação de 88 bilhões de reais. Isso prova que o ajuste proposto pelo governo, pelo lado da arrecadação, está funcionando, certo?

Não. No mesmo período, as despesas aumentaram 13% acima da inflação, ou seja, pouco mais de 106 bilhões de reais. Por mais que a arrecadação venha bem — e parte dela não se repetirá no futuro —, o gasto público tem crescido ainda mais. A conclusão é óbvia: sem controlar as despesas, a estratégia de aumentar a receita está fadada ao fracasso. Não se trata de economia, mas de aritmética.

Isso é particularmente verdadeiro para o dispêndio obrigatório, que compreende o INSS, a folha de pagamento, programas sociais e afins, cujo aumento, 91 bilhões de reais, equivale a 85% do crescimento da despesa primária. É aqui que o jogo está sendo jogado.

Não há mistério algum sobre o que impulsiona tais gastos. É o aumento do salário mínimo acima da inflação, somado à expansão dos beneficiados.

Caso o governo queira virar o jogo fiscal, é aí que terá de atuar. No entanto, as declarações do presidente deixam claro que não há disposição de atacar esses temas, não apenas impopulares, como também dependentes de reformas constitucionais. Embora o Congresso geralmente não se oponha a mudanças que permitam gastar mais (basta lembrar da PEC dos Precatórios, da PEC Kamikaze e da PEC da Transição), não tem o costume de se mexer para reduzir despesas, ainda mais quando o próprio Executivo não quer fazer força a respeito.

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“Persiste em nosso imaginário a ideia de que existe uma solução indolor para problemas dessa natureza”

Dado, porém, o mal-estar das últimas semanas, expresso no encarecimento do dólar, o próprio presidente se viu obrigado a acenar com medidas de controle, o que obviamente não quer dizer elas venham a se materializar.

Pelo contrário, a proposta de reduzir o gasto obrigatório em 26 bilhões de reais “no ano que vem”, por meio de um “pente-fino” nos programas sociais, é apenas o que em tempos idos se qualificava como “palestra flácida para acalentar bovinos”, ou, de maneira mais simples, “conversa mole para boi dormir”.

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Cálculo de meu colega Fernando Montero, um economista que entende do riscado, sugere que seria necessário cortar perto de 1,25 milhão de benefícios para chegar a tal economia, notando que o ministro da Previdência se gabava de ter suspendido perto de 57 000 até maio de 2024. E isso se o ajuste focalizar o valor médio (20 700 reais ao ano); caso fique mais concentrado naqueles de menor montante, seria necessário atingir número ainda maior de beneficiários.

Persiste em nosso imaginário a ideia de que existe uma solução mágica, indolor, para problemas dessa natureza, como alguns ainda veem o Plano Real, sem prestar maior atenção às manifestações dos economistas responsáveis pelo programa, do qual a reforma monetária foi parte importante, sem dúvida, mas longe da totalidade do projeto.

Não há, porém, pirotecnia que resolva a questão fiscal; apenas um conjunto de reformas bem articulado que aponte para a estabilização do gasto obrigatório. Ao insistir na mágica, o governo prepara o terreno para mais uma decepção.

Publicado em VEJA de 12 de julho de 2024, edição nº 2901

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