ASSINE VEJA NEGÓCIOS
Imagem Blog

Alexandre Schwartsman

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Economista, ex-diretor do Banco Central

Como uma nação emergente

Os Estados Unidos de Trump têm juros mais altos e moeda fraca

Por Alexandre Schwartsman Atualizado em 17 abr 2025, 11h13 - Publicado em 17 abr 2025, 06h00

A turbulência recente nos mercados financeiros globais, especialmente no mercado americano, é bastante incomum, sobretudo no que se refere à combinação entre juros e câmbio. Já houve vários episódios em que tanto a taxa de juros paga pelo Tesouro americano quanto o valor do dólar relativamente às demais moedas desenvolvidas (euro, iene etc.) passaram por mudanças súbitas e surpreendentes. No entanto, até agora, seguiam um padrão muito diferente do observado nos últimos dias.

Na maior parte do tempo, as flutuações refletem as perspectivas quanto ao binômio inflação-crescimento. Se há, por exemplo, risco de sobreaquecimento da economia americana — e, portanto, de inflação muito alta —, o mercado passa a antecipar uma elevação da taxa de juros. Consequentemente, o dólar tende a se apreciar frente às moedas globais, pois as aplicações na moeda americana passam a oferecer maior retorno. No sentido oposto, sinais de enfraquecimento da atividade levam a expectativas de queda de juros, que implicam enfraquecimento do dólar. Houve ainda momentos mais raros — e mais relevantes — em que crises de diversas naturezas levaram investidores a buscar refúgio nos títulos do Tesouro americano. Isso resultou no fortalecimento do dólar concomitante à queda dos juros americanos, porque, em nome da segurança, investidores aceitam retornos mais baixos.

“Investidores estão vendendo títulos para comprar de outros países. É a nossa conhecida fuga de capital”

Os movimentos dos últimos dias, contudo, são inusitados porque observamos simultaneamente a perda de valor do dólar e o aumento das taxas de juros dos títulos do Tesouro. Ao que indica, investidores vendem esses papéis, pegam seus dólares e os usam para comprar moedas (e títulos) de outras economias desenvolvidas. Trata-se de fenômeno raro no contexto dos Estados Unidos, mas bastante conhecido por nós — e também por outros países, sejam eles emergentes ou mesmo desenvolvidos: a fuga de capitais. Preocupações quanto ao desempenho futuro da economia americana, em grande parte — mas não exclusivamente — por causa da elevação de tarifas de importação, somadas à crescente incerteza sobre os rumos da política econômica, afastam investidores tanto dos títulos do governo quanto do dólar.

Assim, as taxas de juros dos títulos americanos mais longos, especialmente aqueles com prazo entre cinco e dez anos, atingiram cerca de 4,8% ao ano na semana passada, bem próximas aos recordes dos últimos anos. Mais preocupante, porém, foi o comportamento dos juros reais (ou seja, deduzida a inflação esperada), que ultrapassaram com folga a marca de 2,5% ao ano, os mais altos em quinze anos.

Continua após a publicidade

Isso não reflete a piora das expectativas de inflação, que se mantêm, ao menos por ora, razoavelmente bem-comportadas. Parece, por outro lado, indicar uma deterioração da qualidade da política econômica, que tende a comprometer o crescimento da produtividade, bem como o acesso a bens importados, combinação que exige juros reais mais elevados para manter a inflação sob controle. Pode também resultar de preocupações com o ritmo de expansão da dívida pública americana num contexto de crescimento mais baixo do PIB e, portanto, da arrecadação, mas ainda é cedo para termos condições de fazer tal diagnóstico. A seguir nesse caminho, Trump vai fazer dos Estados Unidos um país emergente.

Publicado em VEJA de 17 de abril de 2025, edição nº 2940

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas R$ 5,99/mês*
ECONOMIZE ATÉ 59% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Nesta semana do Consumidor, aproveite a promoção que preparamos pra você.
Receba a revista em casa a partir de 10,99.
a partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.