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Alexandre Schwartsman

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Economista, ex-diretor do Banco Central
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A difícil luta contra a miopia

O ataque ao BC custa caro à economia e custará à política

Por Alexandre Schwartsman Atualizado em 28 jun 2024, 14h06 - Publicado em 28 jun 2024, 06h00

A esta altura do campeonato, o presidente já deveria ter entendido que atacar Roberto Campos, ou melhor, a diretoria do Banco Central — dado que a última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) foi unânime — não o ajuda do ponto de vista da gestão da economia.

A língua frouxa, a retórica agressiva, assim como as afirmações sem nexo colaboraram (e colaboram) para manter o dólar mais caro, sabotando um dos desenvolvimentos que têm ajudado a segurar preços de bens industriais por aqui.

Também ajudam a impulsionar as taxas de juros futuras, que sobem apesar de toda sinalização do “maligno” BC acerca de não pretender elevar a Selic em horizonte minimamente razoável, criando empecilhos adicionais ao investimento privado, uma das molas propulsoras do crescimento sustentado.

Aumentam, por fim, os receios acerca do comando do BC a partir do fim de 2024, quando estará indicada a maioria dos membros do Copom, principalmente quanto à possibilidade de um BC submisso aos interesses político-eleitorais imediatos, repetindo o desempenho do período 2011-2016. Basta lembrar, por exemplo, da postura do BC durante a eleição presidencial de 2014, quando esperou para elevar a taxa de juros até a quarta-feira seguinte ao segundo turno, em contraste com o ocorrido em 2022, quando aumentou a Selic em meio à campanha eleitoral.

Isso se traduz em expectativas crescentes de inflação, que começam a contaminar a inflação corrente, processo que ameaça se aprofundar mais perto da troca na liderança do BC.

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“Falta alguém com estatura para avisar Lula do prejuízo em que incorre ao vociferar sobre política monetária”

É cada vez mais claro que falta ao presidente da República alguém com estatura para avisá-lo do óbvio prejuízo em que incorre cada vez que abre a boca para vociferar sobre política monetária. Seria o papel de um ministro da Fazenda com alguma influência sobre o presidente, e não um seguidor a qualquer custo.

Isso dito, me pergunto às vezes se — caso Lula entendesse o tamanho do estrago que provoca — tal conhecimento o levaria a uma postura mais equilibrada.

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Talvez não, confesso. É bem possível, se não provável, que seus interesses políticos de curto prazo convencessem o presidente de que, a despeito do prejuízo econômico, haveria ganhos de imagem que valeriam a pena. Em particular a possibilidade de — mantendo seu hábito de décadas — se eximir de qualquer responsabilidade por desenvolvimentos negativos.

É sempre mais fácil transferir a culpa a terceiros, especialmente a desafetos, e, de lambuja, implicar um possível adversário nas eleições de 2026, do que admitir que seu projeto econômico, baseado em gastar mais e torcer para que as receitas de alguma forma cresçam ainda mais rápido, esteja fundamentalmente errado. Todavia, realçando a miopia dessa postura, mesmo essa desculpa tem hora marcada para acabar. A partir de 2025, a condução da política monetária, provavelmente similar à adotada pelo nada saudoso Alexandre Tombini, será de responsabilidade não do próximo presidente do BC, mas do presidente da República.

Uma postura mais técnica ajudaria a isolá-lo das questões do BC, como fez Tony Blair ao garantir a independência do Banco da Inglaterra, mas vencer a miopia política é tarefa para lá de complicada.

Publicado em VEJA de 28 de junho de 2024, edição nº 2899

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