Uma equipe internacional de astrônomos que inclui profissionais da Universidade de São Paulo divulgou um novo estudo em que analisa estrelas que engolem os planetas ao seu redor. Os especialistas investigaram a composição química de 62 estrelas divididas em 31 pares por meio de um telescópio e da inspeção de resultados anteriores da literatura.
Cada par deveria conter duas estrelas quimicamente idênticas, já que são compostas do mesmo material. No entanto, quando um planeta é absorvido por uma estrela, ele pode mudar sua química, adicionando lítio e ferro à sua composição.
A pesquisa envolveu a maior amostra já estudada de estrelas similares em sistemas binários. Como resultado, os cientistas constataram que ao menos um quarto dessas estrelas “devoram” planetas que as orbitam, sugerindo que, diferentemente do nosso Sistema Solar (que preservou bem sua estrutura com o tempo), grande parte dos sistemas planetários passou por diversas mudanças ao longo dos anos.
“A pesquisa é importante pois mostra o trágico final da evolução de alguns sistemas planetários”, afirma a VEJA Jorge Luis Meléndez Moreno, professor do departamento de astronomia da Universidade de São Paulo e coautor do estudo. “Alguns deles têm órbitas caóticas, especialmente em sua “infância”, o que pode causar a ejeção de planetas para fora do sistema ou o engolfamento pela estrela-mãe. Em comparação, o nosso Sistema Solar é muito estável, o que favorece a longevidade de seus planetas.”
Para o especialista, é possível que o nosso Sol tenha engolido algum material planetário. Depois de seus anos iniciais, entretanto, ele teria se estabilizado, permitindo maior estabilidade. Meléndez diz ainda que, eventualmente, o Sol deve engolir seus planetas mais internos, incluindo a Terra, em alguns bilhões de anos.
Além disso, o estudo pode ter impacto sobre a forma como entendemos a vida no Sistema Solar. “A maioria dos astrônomos acredita que a vida mais simples, microscópica, é comum no universo”, declara. “Porém, para que a vida mais complexa se desenvolva, parece ser necessária uma longa escala de tempo.” O astrônomo afirma ainda que, enquanto a Terra tem cerca de 4500 milhões de anos, foi apenas nos últimos 500 milhões que a vida complexa surgiu. “Nesse sentido, a estabilidade orbital de sistemas planetários como o nosso parece ser fundamental para o desenvolvimento de formas de vida avançadas.”