Desde o surgimento das fibras óticas, na década de 1950, elas têm revolucionado a experiência humana, em especial quando se trata de transferência de dados e, consequentemente, telecomunicações. No entanto, um artigo científico divulgado essa semana aponta que uma tecnologia semelhante pode estar sendo adotada na natureza há muito mais tempo.
Essa ferramenta está embarcada nos Corculum cardissa, conhecidos popularmente como berbigão-do-coração. Essa espécie de molusco tem aragonita na sua concha, um cristal de carbonato de cálcio que funciona como microlentes e que é capaz de filtrar a luz, permitindo que as algas que vivem dentro da concha façam fotossíntese, alimentando o animal. A descoberta foi publicada na Nature Communications.
Qual a utilidade da ‘fibra óptica’ em animais?
Isso só acontece porque essa espécie vive em uma relação de simbiose. O invertebrado vive dentro da concha, mas ele também permite que algas se instalem dentro da casca protetora, garantindo o alimento do berbigão.
Esse tipo de relação também ocorre em outras espécies, mas elas precisam abrir a concha para que as algas façam fotossíntese. Quando isso acontece, no entanto, o animal fica muito mais propenso a predação, além de poder ser danificado pela radiação ultravioleta proveniente do sol.
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Com essa “tecnologia” semelhante a fibra óptica, o C. cardissa consegue permitir que a luz entre e que seus parceiros façam fotossíntese sem precisar ficar exposto a predadores. Além disso, a aragonita filtra a radiação ultravioleta – no máximo, 28% dessa luz danosa consegue entrar, enquanto até 62% do brilho útil para as algas passam pelo filtro – reduzindo os danos a ambas as espécies.
Os pesquisadores ainda perceberam que o formato de coração do berbigão é mais efetivo do que o design de outros moluscos para a transmissão dessa luz, otimizando a atividade fotossintética das algas. “Os cabos de fibra óptica e as microlentes dos berbigões-do-coração podem inspirar tecnologias ópticas”, escrevem os autores.