O avanço dos estudos em genética e fisiologia permitem uma compreensão cada dia mais detalhada sobre condições cromossômicas, como a Síndrome de Down. No entanto, entender a relação das comunidades com essas anomalias, do ponto de vista histórico, ainda é um imenso desafio. Agora, um estudo publicado nesta terça-feira, 20, pode ajudar a jogar luz sobre esse mistério.
De acordo com o artigo publicado na revista científica Nature Communications, pesquisadores conseguiram identificar a síndrome de Down em seis indivíduos que viveram há até 5,5 mil anos. Além disso, também conseguiram observar um fóssil com a Síndrome de Edwards.
Que história esses fósseis contam?
Ainda não é possível, a partir dessa análise, saber qual era a frequência dessas síndromes em populações antigas. Acredita-se, no entanto, que elas eram muito raras. Isso acontece porque, hoje, a maior parte das crianças com síndrome de Down são filhos de mães em idade avançada, o que era incomum há até algumas décadas.
Três dos fósseis, no entanto, permitem tirar algumas conclusões. Esses bebês em específico foram encontrados em um assentamento da idade do Ferro (1.200 a 500 a.C), onde hoje se localiza a Espanha. De acordo com os autores, serem enterrados no mesmo local que os outros indivíduos é um sinal de que, pelo menos nessa localidade, seres com essas síndromes eram tratados como parte da comunidade – em alguns casos até como pessoas especiais.
Embora um estudo recente tenha chegado a conclusões semelhantes, mais investigações serão necessárias para confirmar essa hipótese em diferentes comunidades.
Por que só agora?
Algumas síndromes apresentam características ósseas, fáceis de identificar, mas isso não acontece em condições como a síndrome de Down. Até agora, portanto, existia um imenso desafio, pois o diagnóstico só poderia ser feito em amostras com os cromossomos intactos – em fósseis, mesmo que o DNA esteja presente, ele geralmente é degradado, o que impede a análise.
Agora, pesquisadores conseguiram desenvolver uma técnica em que o diagnóstico é feito mesmo em DNA fragmentado. Explicamos: síndromes como a de Down e a de Edwards são caracterizadas pela presença de um cromossomo a mais, assim, é possível identificar que os genes presentes nesses cromossomos específicos (21, no caso de Down; 18, no caso de Edward) estão em maior quantidade.
Para encontrar esses amostras, os pesquisadores avaliaram dados genéticos de 10 mil fósseis, que estavam armazenados em um banco de dados do Instituto Arqueológico Alemão, em Berlim. Curiosamente, todas as síndromes foram encontradas em fósseis de crianças ou fetos.