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Pesquisadora reflete sobre a ciência por trás dos fenômenos sobrenaturais

Ann Taves está no Brasil para workshop que estuda intersecções entre experiências não ordinárias e o método científico

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 ago 2024, 17h46
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  • Quando mais jovem, a pesquisadora Ann Taves se viu pensando sobre a falta de controle sobre seu próprio fluxo de raciocínio. Ela se surpreendeu com o que se popularizou hoje como pensamentos intrusivos e decidiu investigar as chamadas experiências não ordinárias – fenômenos como visões, presenças e possessões muitas vezes vistas como místicas e religiosas. Taves se dedica esses estudos desde a década de 1970 e, hoje, se tornou uma das pesquisadoras mais renomadas nesta área. Prestes a visitar o Brasil, ela concedeu entrevista a VEJA para falar sobre as intersecções entre ciência e religião

    Embora chamadas de não ordinárias, essas experiências são comuns, em especial em ambientes religiosos. A ideia de ser possuído, por exemplo, faz parte do cotidiano tanto em algumas vertentes evangélicas do cristianismo quanto em linhas de matriz africana. Mas como estudar isso cientificamente? Historicamente, as ciências humanas e as ciências naturais têm abordagens completamente diferentes, mas Taves defende um método interdisciplinar para aprimorar o entendimento desses fenômenos. 

    Por que entender os fenômenos religiosos?

    Pesquisadora da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, ela estuda experiências não ordinárias, sejam elas religiosas, místicas ou patológicas, há pelo menos 30 anos. “O objetivo é entender quão comuns elas são, em que condições são problemáticas e quais podem ser positivas”, ela explica, em entrevista a VEJA.

    Isso acontece porque, a depender do contexto, essas experiências são encaradas de maneiras distintas. Nas vertentes cristãs, por exemplo, o fenômeno de possessão geralmente é visto como algo negativo e estressante, enquanto nas matrizes afrobrasileiras, essa é uma maneira de ter contato com a espiritualidade e, muitas vezes, buscar orientação e autoconhecimento. Apesar das diferenças, ambas as experiências são importantes para unir os respectivos grupos em torno da fé. 

    Tocadores de atabaque em cerimônia umbandista -
    Tocadores de atabaque em cerimônia umbandista – (Fred Pinheiro/Getty Images)
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    Qual a melhor maneira de estudar esses fenômenos?

    Nas ciências humanas, essas experiências costumam ser estudadas de maneira qualitativa, o que costuma envolver a investigação da escolha de palavras e dos contextos históricos, enquanto as ciências naturais buscam generalizar as experiências e, muitas vezes, as caracterizam como patológicas. 

    Para a pesquisadora, no entanto, unir o método científico das ciências naturais e a contextualização cultural das humanas é a melhor maneira de investigar esses fenômenos. “Nós queremos entender quais aspectos são comuns às diferentes culturas para só depois entender quais características fazem com que o fenômeno seja considerado positivo, negativo ou patológico”, diz Taves. 

    Ela explica que decidiu estudar esse fenômenos justamente por serem tão comuns. Muitas pessoas relatam experiências não ordinárias, como sonhos, visões ou presenças inexplicáveis, mas, ainda assim, não existe uma uniformidade na maneira como cada episódio é visto por grupos distintos. Portanto, entendê-las melhor, com métodos ao mesmo tempo objetivos cientificamente e respeitosos com as diferentes culturas, pode ser uma maneira de entender o que pode ser normalizado pela sociedade e qual a influência desses fenômenos na nossa evolução. 

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    psilocibina-depressao
    PSILOCIBINA: molécula dos cogumelos mágicos demonstra potencial para controlar depressão. (Foto: GI/Getty Images)

    Normalizar essas experiências também pode ser benéfico para a própria ciência. Os psicodélicos, por exemplo, sempre foram associados a ambientes religiosos e um estigma em torno deles os afastou das investigações médicas, mas, hoje, a melhor compreensão dos seus efeitos – inclusive da influência cultural na experiência individual dos usuários – ajuda a desvendar seus princípios terapêuticos. “Acho que a pesquisa sobre psicodélicos é realmente promissora por nos dar um contexto mais controlado para observar como funcionam as interações medicamentosas entre o cérebro e o contexto cultural”, afirma Ann. 

    Agora, a pesquisadora disse estar animada para interagir com os pesquisadores brasileiros, já que por aqui nós temos uma gama de religiões e contextos culturais que convivem de maneira muito intrincada. E isso acontecerá em breve, já que ela vem ao Brasil na próxima quinta-feira, 29, para participar do NOEx Workshop, um evento organizado pelo Ciência Pioneira em parceria com a John Templeton Foundation para discutir as intersecções entre as ciências e as experiências não ordinárias. 

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