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Estudo dá novos detalhes de réptil voador que viveu no Brasil

Pesquisa liderada por cientista brasileiro avança na descrição do 'Caiuajara dobruskii', pterossauro alado encontrado em sítio no Paraná

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h11 - Publicado em 7 jan 2023, 08h00
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  • GRUPO - Em família: espécie típica do Brasil -
    GRUPO – Em família: espécie típica do Brasil – (Maurilio Oliveira/Museu Nacional-UFRJ/.)

    Há cerca de 85 milhões de anos, na região onde hoje fica a cidade de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, um observador que olhasse para cima provavelmente veria uma revoada de pterossauros riscando o céu de uma ponta a outra. No período Cretáceo Superior, o local abrigou bandos desses répteis alados. Espécie típica da América do Sul, o Caiuajara dobruskii era relativamente pequeno, com uma envergadura estimada em cerca de 2,5 metros. Sua característica mais peculiar era o crânio longo e estreito, com cerca de um terço do comprimento de todo o corpo. Ele também tinha uma crista pontiaguda na cabeça, que pode ter sido usada como adorno. Sua dieta provavelmente consistia em peixes e insetos. Descrito pela primeira vez em 2014, o animal acaba de ganhar contornos mais nítidos em um artigo publicado por pesquisadores brasileiros na revista científica Plos One.

    O estudo, liderado por Lucas Canejo, paleontólogo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, se baseia no exame de um crânio fossilizado extremamente bem preservado do pterossauro brasileiro. A peça só foi removida de um dos blocos de rocha encontrado no sítio paranaense entre 2019 e 2020. Segundo o cientista, os esqueletos dos répteis alados eram como os das aves modernas, ocos e leves para que pudessem levantar voo e planar. Essa característica fez com que sua fossilização fosse prejudicada, porque os ossos acabariam, inevitavelmente, se fragmentando e se esfarelando facilmente ao longo do tempo e quando expostos ao ambiente. “Um crânio nesse estado de preservação é muito valioso porque mostra detalhes que não se mantêm normalmente em fósseis”, disse Canejo a VEJA.

    CRÁNIO - Fóssil recém-descoberto: esqueleto leve permitia ao animal voar -
    CRÁNIO – Fóssil recém-descoberto: esqueleto leve permitia ao animal voar – (Universidade do Contestado/Museu da Terra e da Vida/.)

    O exame do crânio em comparação com os restos de outros animais encontrados no chamado “cemitério de pterossauros” mostrou como os bichos se desenvolviam ao longo de sua existência e apontou pistas para diferenciar machos de fêmeas. A pesquisa de Canejo e do grupo multinacional formado por outros cinco cientistas de várias instituições aponta o papel da crista como indicador de mudanças morfológicas da “infância” até a fase adulta e também como possível sinal de diferenciação entre os gêneros. “Mas ainda não temos garantia se é isso mesmo”, diz o pesquisador. “Na China, foram encontrados fósseis de pterossauros com ovos, mostrando que se trata de exemplares adultos e fêmeas.” Novos estudos, portanto, são necessários.

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    O sítio de Cruzeiro do Oeste é uma das três principais acumulações de fósseis de pterossauros do mundo, ao lado de San Juan, na Argentina, e Xinjiang, na China. Foi descoberto em 1971 por Alexandre Dobruski e seu filho João Gustavo, mas durante quarenta anos ficou na obscuridade. Os animais lá encontrados só seriam descritos em meados dos anos 2010, por uma equipe que incluía Alexander Kellner, orientador de Canejo no estudo publicado recentemente, e Cristina Vega. O nome da espécie de pterossauro, Caiuajara dobruskii, homenageia o descobridor original e a formação geológica conhecida como Grupo Caiuá, na qual os animais, 47 ao todo, foram encontrados.

    EM CAMPO - Paleontólogos em Cruzeiro do Oeste: reconhecimento internacional -
    EM CAMPO - Paleontólogos em Cruzeiro do Oeste: reconhecimento internacional – (CENPALEO/UnC/.)

    Além dos pterossauros, estavam na formação do Paraná restos de uma espécie de lagarto, duas espécies de dinossauros e mais uma de pterossauro. Trata-se de manancial imenso para os paleontólogos brasileiros, diz Kellner, que é diretor do Museu Nacional. “Se investirem um pouquinho na ciência brasileira, faremos milagres.” Já passou da hora de apoiar trabalhos científicos que, entre outros feitos, revelam a história de animais extraordinários e sempre fascinantes como os pterossauros.

    Publicado em VEJA de 11 de janeiro de 2023, edição nº 2823

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