Um dia após o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) anunciar o cronograma de reabertura das escolas particulares no município do Rio de Janeiro, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou um estudo que aponta que a volta às aulas pode representar um risco de contaminação do novo coronavírus para mais de 9 milhões de brasileiros. A projeção, realizada com base na Pesquisa Nacional de Saúde, levou em consideração os idosos e adultos com comorbidades que moram com as crianças e adolescentes no país.
De acordo com o levantamento, no Rio há 600 mil pessoas com doenças pré-existentes ou mais de 60 anos que vivem com parentes em idade escolar. O estado ocupa a terceira colocação no ranking, atrás de São Paulo, com 2,1 milhões, e Minas Gerais, com 1 milhão. Ao todo, quase 4 milhões de habitantes, entre 18 e 59 anos e que têm diabetes, doença do coração ou doença do pulmão, residem em domicílio com pelo menos um menor em idade escolar. O número de 9 milhões citado no estudo inclui esse grupo de risco mais os brasileiros acima de 60 anos, também considerados mais vulneráveis à Covid-19.
Sendo assim, o tão aguardado retorno das atividades escolares colocaria os estudantes em potenciais situações de contágio. “Mesmo que escolas, colégios e universidades adotem as medidas de segurança (e elas sejam cumpridas à risca), o transporte público e a falta de controle sobre o comportamento de adolescentes e crianças que andam sozinhos fora de casa representam potenciais situações de contaminação por Covid-19 para esses estudantes”, diz o trecho da nota técnica “Populações em risco e a volta as aulas: Fim do isolamento social”.
Para o epidemiologista Diego Xavier, que participou do estudo, o retorno às aulas pode ser um risco aos que fazem parte do grupo mais vulnerável e que vinha cumprindo as medidas de isolamento social. “Se apenas 10% dessa população de adultos com fatores de risco e idosos que vivem com crianças em idade escolar vierem a precisar de cuidados intensivos, haverá cerca de 900 mil pessoas na fila das UTIs. Se aplicarmos a taxa de letalidade brasileira, isso pode representar mais 35 mil novos óbitos apenas nos grupos de risco”, analisa Xavier.
O sanitarista Christovam Barcellos acredita que a retomada deve implicar na ampliação de testagem. “Com a expansão da população exposta à infecção pelo vírus deveriam ampliar os números de testes e acompanhar permanentemente esses grupos mais vulneráveis”, diz o vice-diretor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz.