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Carta ao Leitor: Vigilância permanente

Aumento das queimadas no Brasil revela um cenário assustador. De recorde em recorde, podemos chegar ao ponto de não retorno

Por Da Redação Atualizado em 30 ago 2024, 11h16 - Publicado em 30 ago 2024, 06h00

A Terra vive evidente desequilíbrio climático “e não temos nem plano B nem planeta B”, como pontuou o então secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em 2015, em frase inteligente e ferina. Na semana passada, aliás, o português António Guterres, o atual líder da organização diplomática, emitiu um alerta de “catástrofe” devido à elevação acelerada das águas do Oceano Pacífico, com possíveis repercussões em todo o mundo, em futuro breve. O aquecimento global é outro capítulo de preocupação inescapável — e parece improvável que a civilização consiga respeitar o Acordo de Paris, estabelecido em 2015 por 196 países signatários, segundo o qual se deve manter o aumento médio das temperaturas no máximo em até 2 graus acima dos níveis pré-­industriais e, de preferência, limitá-­lo a 1,5 grau. A situação, de fato, preocupa e não há outra saída a não ser o zelo pelo meio ambiente.

Lamentavelmente, os sinais de danos despontam com incômoda frequência. Por aqui, o país está em chamas. Nos seis primeiros meses de 2024, os biomas brasileiros registraram um número inédito de queimadas. O Pantanal e o Cerrado totalizaram a maior quantidade de focos de incêndio para o período, desde o início das medições, em 1988. No Pantanal, de 1º de janeiro a 23 de junho, foram detectados 3 262 episódios, mais de 22 vezes em relação ao mesmo período de 2023. No primeiro semestre deste ano, quase todos os biomas brasileiros tiveram um aumento de queimadas em comparação a 2023, exceto o Pampa, afetado por chuvas responsáveis pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Trata-se de um cenário assustador e, de recorde em recorde, como mostra reportagem da edição, podemos chegar ao ponto de não retorno. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, nome de relevo internacional no tema, não descarta nem mesmo ações criminosas nos recentes focos (e investigações policiais atuam para entender o que houve).

A bandidagem é inaceitável, e precisa ser condenada. Não se pode ser negligente, também, com todo tipo de planejamento e vigilância, que se pressupõe permanente. Durante o governo de Jair Bolsonaro e de um ministro que sugeriu “passar a boiada” para eliminar restrições ambientais, o país transformou-se de modelo a ser seguido em vilão. Com a presidência de Lula, e especialmente com o empenho de Marina, os humores e as prioridades mudaram. Contudo, vale ressaltar, em ritmo demasiadamente lento. Não por acaso, o ministro Flávio Dino, do STF, determinou que a União mobilize, em no máximo quinze dias, o maior número de agentes das Forças Armadas, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional para combater os incêndios no Pantanal e na Amazônia. São lições que precisam ser imediatamente assimiladas. O Brasil necessita correr e estar atento para não passar vergonha na COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, prevista para ocorrer em novembro de 2025, em Belém, no Pará. Seria constrangedor assistir a uma tragédia ambiental durante um evento dessa magnitude. O desafio é imenso.

Publicado em VEJA de 30 de agosto de 2024, edição nº 2908

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