Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
ASSINE VEJA NEGÓCIOS

A conferência que pode virar o jogo: Decisões da COP30 que mudariam o futuro do planeta

Pressionada por recordes de extremos, a COP30 tenta preencher o abismo entre promessas e o que a ciência exige para manter 1,5°C ao alcance

Por Ernesto Neves 19 nov 2025, 11h01 • Atualizado em 19 nov 2025, 11h23
  • A 30ª Conferência da ONU sobre Mudança do Clima (COP30), realizada na capital paraense, é hoje palco de uma das principais encruzilhadas da diplomacia climática global: como traduzir promessas em ação diante de uma lacuna persistente entre os planos nacionais (NDCs) e o que é necessário para manter o planeta mais próximo dos 1,5 °C de aquecimento preconizados pelo Acordo de Paris.

    Um Chamado Moral e Político

    A abertura oficial da COP contou com uma intervenção contundente do secretário-geral da ONU, António Guterres, que condenou o descumprimento do limite de 1,5°C como uma “falha moral e negligência mortal”.

    Ele advertiu para riscos de pontos de inflexão climáticos, deslocamentos massivos e impactos à paz global caso a meta seja ultrapassada, ainda que temporariamente. 

    Esse discurso simboliza bem o tom da cúpula: ambicioso nos objetivos, porém pressionado por desafios concretos para torná-los realidade.

    O Dilema das NDCs Insuficientes

    Apesar de revisões e compromissos nacionais, muitos países não entregaram planos suficientemente ambiciosos para 2035. Segundo especialistas, esse déficit no nível de ambição mina a credibilidade dos esforços multilaterais.

    As negociações na COP30, de fato, incluem a revisão das NDCs. A presidência da conferência, por meio de consultas, publicou um esboço inicial com 21 opções para fortalecer os compromissos climáticos.

    As áreas sensíveis incluem metas mais ambiciosas, transparência e financiamento público, especialmente entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

    Continua após a publicidade

    Atraso no net zero pode selar séculos de ondas de calor extremas, indica estudo

    Pressão por mapa da transição energética avança na COP30, mas contradições do Brasil fragilizam liderança

    Brasil lança plano para cortar emissões da indústria na COP30

    Financiamento Climático: Rota de Baku a Belém

    Um dos temas centrais de Belém é o financiamento climático. A COP30 abriga um plano ambicioso: o “Mapa do Caminho de Baku a Belém”, que visa mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 para ações climáticas. 

    Em linha com esse objetivo, o governo brasileiro lançou o Círculo de Ministros das Finanças da COP30, reunindo chefes de finanças para debater como reestruturar os fluxos de investimento climático, reduzir o custo de capital para projetos verdes e aumentar a coordenação global. 

    Continua após a publicidade

    Além disso, foi criado na conferência um Hub de Plataformas de Países, apoiado por organismos como o Fundo Verde para o Clima (GCF), PNUD e FiCS.

    Esse hub servirá para conectar as demandas nacionais por financiamento a mecanismos que ajudem a desenhar e operacionalizar estruturas de investimento domésticas para a transição verde.

    Soluções para os Biomas

    No contexto amazônico, a COP30 também celebra iniciativas para financiar a proteção florestal.

    No “Diálogo de Soluções para Finanças Florestais até 2030”, autoridades, sociedade civil e setor privado debateram seis mecanismos para impulsionar recursos: entre eles, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), o REDD+, bioeconomia sustentável e reforma de subsídios.

    Foi anunciado um novo mecanismo chamado Earth Investment Engine (EIE), que pretende canalizar capital privado em larga escala para projetos florestais baseados na natureza.

    Continua após a publicidade

    Segundo seus apoiadores, já há um portfólio de mais de US$ 29 bilhões em oportunidades, e a meta é quadruplicar isso até 2030. 

    Impasses e Pressões Políticas

    Apesar das intenções, a COP30 enfrenta tensões. Analistas apontam que os países ricos, embora tenham prometido recursos, ainda não cumpriram plenamente seus compromissos, gerando uma crise de confiança.

    Além disso, o Brasil vem pressionando para que novas formas de financiamento sejam exploradas, como tributos sobre transporte marítimo, petróleo e passagens de avião.

    A geopolítica complica ainda mais: o Brasil aposta na influência dos BRICS como reforço frente a negociações duras sobre financiamento climático com nações desenvolvidas.

    Sociedade Civil e Vozes Indígenas

    A COP30 em Belém tem mobilizado fortemente a sociedade civil. Na “Zona Verde”, espaço aberto ao público, participam indígenas, ribeirinhos, agricultores familiares e movimentos sociais, muitos pela primeira vez com tanta visibilidade.

    Continua após a publicidade

    A Cúpula dos Povos, reunindo delegados de mais de 60 países, promete ser uma das maiores já vistas, com manifestações, marchas e debates sobre as transições justas e direitos tradicionais.

    Lideranças indígenas, como Dinamam Tuxá (APIB), têm cobrado que os acordos firmados sejam efetivamente cumpridos e que povos tradicionais sejam tratados com igualdade nas negociações climáticas.

    Infraestrutura e Contradições

    Enquanto se discute proteção ambiental, a preparação para a COP30 também gerou polêmica.

    Segundo reportagens anteriores, hectares de floresta amazônica foram desmatados para construção de uma estrada de acesso a Belém destinada a hospedar a conferência, um paradoxo simbólico para um evento que discute a preservação da natureza. 

    Além disso, a questão da hospedagem tem sido fonte de tensão: delegados reclamam dos preços exorbitantes dos hotéis em Belém. O governo brasileiro rejeitou propostas da ONU para subsídios diários para delegações, alegando já arcar com custos elevados como país-sede. 

    Continua após a publicidade

    Caminho Deliberativo

    A reta final das negociações exige acordos difíceis. A presidência da COP30 vem consultando ministros para fechar consensos sobre quatro grandes temas polêmicos: NDCs, financiamento climático, comércio relacionado ao clima e transparência de progresso.

     Especialistas avaliam que essas negociações são cruciais: sem um avanço real no financiamento e no monitoramento das metas, a COP30 ficará aquém das expectativas.

    Um Legado Ambiental e Político

    Para muitos observadores, a COP30 pode definir se haverá uma virada concreta na arquitetura multilateral do clima.

    A articulação de um plano global, a mobilização de US$ 1,3 trilhão e a criação de mecanismos institucionais, como o hub de países, são apostas ambiciosas.

    Se bem-sucedidas, essas iniciativas podem lançar as bases para uma transição climática mais justa, especialmente para países em desenvolvimento.

    Mas há riscos: se faltar compromisso político ou se os recursos não forem entregues, a conferência pode se tornar apenas mais uma cúpula simbólica, com pouca efetividade prática.

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    SUPER BLACK FRIDAY

    Digital Completo

    O mercado não espera — e você também não pode!
    Com a Veja Negócios Digital , você tem acesso imediato às tendências, análises, estratégias e bastidores que movem a economia e os grandes negócios.
    De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 3,99/mês
    SUPER BLACK FRIDAY

    Revista em Casa + Digital Completo

    Veja Negócios impressa todo mês na sua casa, além de todos os benefícios do plano Digital Completo
    De: R$ 26,90/mês
    A partir de R$ 9,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$1,99/mês.